Os procedimentos estéticos sempre foram alvo de debates intensos, seja pelo impacto na autoestima, pelas críticas à busca incessante pela juventude ou, mais recentemente, pelo efeito que podem ter na atuação dos atores. A toxina botulínica, popularmente conhecida como botox, voltou ao centro dessa discussão após premiações como o Oscar e o Globo de Ouro, além de lançamentos recentes que trazem atrizes emblemáticas à frente de narrativas que escancaram a obsessão pelo rejuvenescimento.
O caso mais emblemático é o de Nicole Kidman no filme Babygirl, onde sua personagem Romy tem o botox como parte da rotina. A história reflete não apenas a luta contra o tempo, mas também a pressão estética imposta às mulheres – ironicamente, um tema que também surge em A Substância, estrelado por Demi Moore. Apesar do reconhecimento por suas performances, ambas as atrizes enfrentam críticas na internet, muitas vezes voltadas mais para sua aparência do que para o trabalho em cena.
Mas afinal, o botox realmente compromete a expressividade dos atores? Para entender melhor a questão, conversamos com a especialista Jésca Barros, que explica que a aplicação da toxina pode, sim, interferir na atuação, dependendo de como e onde é feita.
"A toxina botulínica paralisa alguns músculos da face, então alguns atores optam por não aplicá-la em regiões específicas para evitar limitações nas expressões faciais. Mas uma aplicação bem planejada não precisa comprometer a expressividade. O problema surge quando há exagero na dose e nos pontos tratados, congelando a face e dificultando a atuação", explica Jésca.
Segundo ela, cada músculo desempenha um papel essencial na mímica facial, e paralisá-los excessivamente pode prejudicar a interpretação. "Por exemplo, se um ator precisa expressar raiva ou tristeza com frequência, não é recomendável aplicar botox na região da glabela – entre as sobrancelhas –, pois isso eliminaria essas expressões", destaca a especialista.
Outro ponto de alerta é o uso recorrente e indiscriminado da toxina, que pode levar à atrofia muscular ao longo do tempo. "Assim como qualquer outro músculo do corpo, se não for usado, ele enfraquece. Se uma pessoa aplica botox de maneira repetitiva na mesma região, pode acabar desenvolvendo flacidez quando o efeito passa, o que cria um efeito contrário ao desejado", explica.
A questão, portanto, não é apenas se o botox atrapalha ou não a atuação, mas como ele é utilizado e qual o impacto da pressão estética sobre os artistas. Enquanto Hollywood continua relutante em oferecer bons papéis para mulheres mais velhas, muitas atrizes se veem diante de um dilema: ceder aos procedimentos para se manterem no jogo ou arriscar perder oportunidades por exibir marcas do tempo.
Curiosamente, esse questionamento não se estende tanto aos homens, que envelhecem diante das câmeras sem grandes preocupações. Enquanto isso, atrizes como Fernanda Torres mostram que é possível encontrar um equilíbrio: em seu filme indicado ao Oscar, ela preserva rugas e marcas de expressão estratégicas, mantendo a naturalidade essencial para a interpretação.
O que parece claro é que o botox, quando bem administrado, pode coexistir com a atuação. Mas se a indústria cinematográfica continuar a exigir juventude eterna de suas estrelas femininas, talvez o problema não esteja no botox – e sim na forma como o próprio cinema enxerga o envelhecimento.
Redação: Isabella Carolina Martins