O dólar hoje já bateu máxima intradia a R$ 6,11 no mercado à vista, puxando os juros futuros para cima. As taxas de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 e 2027 estão acima de 14%, estendendo o mau humor do mercado com o pacote fiscal.
Na quinta-feira (28), os mercados ficaram agitados após a divulgação do pacote fiscal de Haddad. Alguns dos reflexos mais visíveis foram o novo recorde da moeda americana a R$ 6 e os juros futuros no maior nível desde o governo Dilma. A pressão foi sentida também no Ibovespa, que fechou a sessão ao menor nível desde junho após decepção com pacote fiscal – veja detalhes aqui.
A sexta-feira (29) se inicia em meio a ajustes do dia anterior. Em Nova York, em sessão encurtada e liquidez reduzida pós feriado, os juros dos Treasuries (títulos da dívida estadunidense) e a moeda estadunidense hoje recuam com investidores ponderando recente bateria de dados macroeconômicos dos EUA e implicações para os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o BC americano), além das incertezas quanto as propostas de tarifas do presidente eleito dos EUA, Donald Trump.
O que afeta o dólar hoje
Ressaca do pacote fiscal
Investidores estendem o mau humor com o pacote fiscal e precificam também o discurso que pode ser visto como hawkish (adoção de política austera, com taxas de juros mais altas) de de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), na quinta-feira (28), e que volta a falar nesta sexta-feira (29) em almoço na Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Para a Warren Investimentos, a economia do pacote deve ser de 62% do valor anunciado, ou cerca de R$ 45 bilhões. O Itaú Unibanco calcula um potencial de economia de R$ 53 bilhões nos próximos dois anos, 2025 e 2026, enquanto nas contas da Monte Bravo, as medidas resultarão numa contenção de despesas em torno de R$ 40 bilhões a R$ 45 bilhões.
Contenção do dólar
Galípolo enfatizou em evento, na quinta-feira (28), do Esfera Brasil que a autarquia segue comprometida com a meta de inflação de 3%, mesmo em um cenário de desancoragem das expectativas inflacionárias, que ele classificou como uma preocupação significativa para o BC.
Com uma economia aquecida, crescimento surpreendente e desemprego baixo, Galípolo reforçou a necessidade de uma política monetária mais restritiva. Ele comparou o papel do BC ao “chato da festa”, que diminui o som quando as coisas parecem estar indo bem. “Mas isso acontece para desacelerar e as coisas não saírem do controle”, disse.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, atribuiu ao BC a responsabilidade pela alta do dólar, e disse que o governo deve explicar as medidas e que o dólar vai baixar. “Estamos em contagem regressiva para ter não um Banco Central que seja com olhar para o Executivo, mas um BC que tenha um olhar para o Brasil”, acrescentou.
Indicadores econômicos
O setor público teve superávit primário de R$ 36,883 bilhões em outubro, o maior para o mês desde 2016, porém, inferior à mediana das previsões do mercado, de R$ 40,5 bilhões. Neste ano, o setor público acumula déficit primário de R$ 56,678 bi até outubro (0,59% do PIB) e em 12 meses, déficit primário R$ 223,521 bilhões até outubro (1,95% do PIB).
A taxa de desocupação no Brasil ficou em 6,2% no trimestre encerrado em outubro, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi idêntico à mediana das expectativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast.
O intervalo das estimativas ia de 6,0% a 6,4%. Em igual período de 2023, a taxa de desemprego na Pnad estava em 7,6%. No trimestre encerrado em setembro de 2024, a taxa de desocupação estava em 6,4%.
A renda média real do trabalhador cresceu 3,9% na comparação anual, a R$ 3.255 no trimestre encerrado em outubro.
Commodities
No exterior, os sinais das commodities estão mistos. O minério de ferro subiu 1,14% na Bolsa chinesa de Dalian, mas o petróleo recua, pressionado por expectativas sobre o encontro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), que foi adiado para o dia 5 de dezembro.
Às 10 horas (de Brasília), o dólar hoje à vista subia 0,88%, a R$ 6,0669. O dólar futuro de janeiro ganhava 0,29%, a R$ 6,0580, após abrir cotado a R$ 6,02, em baixa de 0,32%.