O boicote liderado pelo Governador Mauro Mendes, à empresa francesa Carrefour no Brasil, gerou um movimento que está mobilizando o setor agropecuário nacional. O movimento reuniu do Ministro da Agricultura (Mapa), Carlos Fávaro à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), passando por grandes empresas e entidades agropecuárias, como: a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Sociedade Rural Brasileira (SRB), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).
O anúncio do veto foi feito na quarta-feira (20) pelo CEO mundial do grupo Carrefour, em carta a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas da França, e divulgada nas redes sociais. Bompard disse que a decisão era um gesto de solidariedade aos agricultores franceses, que se opõem ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Segundo Bompard, a rede “não venderá carnes do Mercosul, independentemente de preço ou quantidade”.
No dia seguinte (21), o governador Mauro Mendes, divulgou um vídeo em suas redes sociais manifestando repúdio à decisão do grupo Carrefour e classificou a ação como injusta e prejudicial à economia local, destacando a competitividade e a qualidade da carne brasileira frente à francesa. Mendes afirmou que a medida foi motivada por pressões de produtores franceses, incapazes de competir com os brasileiros, e criticou a postura da empresa, pedindo uma resposta firme dos brasileiros.
A fala do governador provocou uma onda que já afeta o funcionamento do grupo Carrefour. Dados preliminares desta sexta-feira (22) indicam que cerca de 30% das lojas do Carrefour no Brasil já enfrentam dificuldades no abastecimento de carne bovina. E mais, fornecedores de carne de frango também anunciaram que vão seguir o mesmo caminho, o que compromete ainda mais o abastecimento da rede supermercadista.
LIDERANÇAS - O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também se posicionou contra o veto e reiterou que o Brasil não aceitará imposições comerciais que prejudiquem seus produtores. Ele disse que a reação das entidades agropecuárias tem apoio do governo Federal, e “demonstra a união do setor em defesa da reputação e dos interesses dos produtores brasileiros”.
Para Isan Rezende, presidente do Instituto do Agronegócio (IA), disse que a fala de Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, representa um profundo desrespeito ao agronegócio brasileiro. “O Brasil vem cumprindo seus compromissos em termos de rastreabilidade e sustentabilidade, e atitudes como essa só reforçam a necessidade de estabelecermos parcerias comerciais mais sólidas com mercados que valorizem nossos produtos e respeitem a realidade do agronegócio brasileiro”, defendeu Isan.
O deputado Pedro Lupion, presidente da FPA, por exemplo, classificou o ato como uma tentativa de pressionar o Brasil e reforçou que, embora a exportação de carnes brasileiras para a França não seja tão expressiva, o impacto no mercado nacional seria significativo para a rede francesa. Lupion citou o caso da Danone, que, após um boicote ao agronegócio brasileiro, recuou devido à pressão econômica. “Assim, a FPA e outras entidades exigem uma postura mais firme contra decisões que prejudicam os produtores brasileiros”, completou.
Em carta, publicada na quinta-feira (21), a CNA, a ABIEC, a ABPA, a ABAG, a SRB e a Fiesp questionam a postura do Carrefour e propuseram um boicote à empresa no Brasil, argumentando que, se as carnes do Mercosul não são "à altura" do mercado francês, elas também não deveriam ser fornecidas às lojas da rede em outros países, incluindo o Brasil. A carta reforça que essa atitude do Carrefour ignora a qualidade dos produtos do Mercosul, que é reconhecida mundialmente, e desconsidera os avanços realizados pela região em termos de sustentabilidade e rastreabilidade.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS) apresentou um requerimento, de convite ao embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, para prestar informações à Comissão de Relações Exteriores do Senado sobre o posicionamento francês em relação ao acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia.
“A realidade é que 25% da economia mundial e 780 milhões de pessoas aguardam sinalização positiva de Paris. Soma-se ao impasse unilateralmente criado a convicção de que o cenário mundial dos anos que estão por vir não permitem o luxo dessa demora que, por certo, prejudicará as economias de todos os países membros tanto da União Europeia quanto do Mercosul”, afirma a senadora na proposta.
A ex-ministra disse que a demora do governo francês em acatar os termos do acordo é injustificável e atende a uma parcela minoritária dos setores internos do país. A posição, continua ela, está em dissonância com os interesses mais amplos dos diferentes ramos da economia de ambos os blocos. Segundo ela, a entrada em vigor das regras do livre comércio ampliaria ainda mais a corrente de comércio franco-brasileira, que registrou, em 2022, a cifra de US$ 8,4 bilhões.