Essa não é a primeira vez que o Ramadã gera tensão dentro de instituições de ensino públicas na Europa. Em Viena, capital da Áustria, a situação atingiu um ponto alarmante. No dia 11 de março de 2025, um sindicato local de professores denunciou que crianças cada vez mais jovens algumas com apenas seis anos , estavam sendo incentivadas ou pressionadas a jejuar durante o período letivo. Os efeitos foram imediatos: episódios de fraqueza extrema, quedas de pressão e até desmaios começaram a ser relatados nas salas de aula. A denúncia, publicada pelo Brussels Signal, acendeu o alerta sobre a imposição de práticas religiosas em ambientes que, teoricamente, deveriam prezar pela neutralidade e pelo bem-estar físico e emocional dos alunos.
O mês do Ramadã, que em 2025 começou na noite do dia 28 de fevereiro e segue até 30 de março, é uma data sagrada para os muçulmanos. No entanto, o desafio que se impõe às autoridades europeias é equilibrar o respeito à diversidade cultural e religiosa com os princípios de laicidade e inclusão, especialmente dentro do sistema educacional público.
Tradução da carta : Tradução da carta :
Convite para o Iftar da turma [oculto]
Queridos alunos, queridos pais,
Gostaríamos de informá-los que realizaremos na escola um Iftar (quebra do jejum). Isso significa que seu filho estará na escola das 17h30 às 20h. Por isso, é importante que ele traga algo. Criamos juntos uma lista de comidas.
Este encontro é obrigatório, pois estaremos substituindo uma outra aula que será cancelada. • Data: 28.03.2025 • Horário: 17h30 – 20h00 • Local: Sala de aula [oculto]
Atenciosamente,Sra. [nome oculto] & Sra. [nome oculto]
Isso teve acontecimento no dia 14 de março de 2025, uma escola pública localizada no distrito de Neukölln, em Berlim, está no centro de uma polêmica após ser acusada de tornar obrigatória a participação de alunos em uma celebração muçulmana durante o mês sagrado do Ramadã.
O caso ganhou repercussão nacional e reacendeu o debate sobre neutralidade religiosa nas instituições públicas de ensino na Alemanha. O episódio ocorreu na escola Carl Zuckmayer, onde estudantes do sétimo ano, com idades entre 13 e 14 anos, receberam um convite oficial para um evento de Iftar a tradicional refeição muçulmana que marca o fim do jejum diário durante o Ramadã. O encontro foi agendado para o dia 28 de março, das 17h30 às 20h.
Segundo relatos, os pais dos alunos foram informados de que a participação no evento seria obrigatória, já que substituía aulas que haviam sido canceladas naquele mesmo período. Além disso, os estudantes foram orientados a levar alimentos de acordo com uma lista previamente divulgada pela própria escola. A exigência causou estranhamento em parte das famílias, especialmente entre os que não seguem a religião islâmica.
A situação veio à tona após o pai de um dos estudantes repassar a carta-convite à imprensa. Em entrevista ao tabloide alemão Bild, o homem, que preferiu não se identificar, desabafou:
“Não se celebra o Natal na escola, tampouco a Páscoa. Não há qualquer comemoração cristã obrigatória. Mas, para o Ramadã, nossos filhos têm que participar. Que país é esse?”
O distrito de Neukölln abriga uma população majoritariamente muçulmana, com fortes comunidades de origem turca e árabe. Dados de junho de 2024 apontam que dos 160 mil habitantes da região, cerca de 60 mil eram estrangeiros. Estimativas indicam que aproximadamente 25% da população local seja de fé islâmica.
Diante da repercussão negativa, o governo da cidade de Berlim se pronunciou por meio de um porta-voz, ressaltando que escolas públicas devem seguir princípios de neutralidade religiosa.
“Após conversas com os supervisores escolares e a direção da Carl Zuckmayer, foi esclarecido que a participação no evento de Iftar era expressamente voluntária”, afirmou o representante do governo.
No entanto, especialistas alertam para uma pressão velada que pode ocorrer dentro de ambientes escolares. Ahmad Mansour, psicólogo germano-israelense de origem árabe e conhecido crítico do islamismo radical, comentou o caso nas redes sociais no dia 13 de março. Segundo ele, é compreensível que escolas com maioria muçulmana celebrem datas importantes como o Ramadã, mas reforçou que a participação deve ser sempre opcional.
“Há, muitas vezes, uma pressão social para que alunos não muçulmanos e mesmo aqueles que não estão jejuando sigam regras islâmicas”, escreveu Mansour.
Quem está exigindo sacrifícios de quem ainda nem entende o que está em jogo?
Mila Schneider Lavelle é jornalista com formação também em teologia e especialista em Marketing, tendo atuado como Head Manager de grandes projetos internacionais e nacionais. Reconhecida por sua análise crítica e estilo incisivo, é também influenciadora digital, com ênfase em geopolítica e temas internacionais, sobretudo ligados ao Oriente Médio.
Click aqui e receba notícias em primeira mão