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BRASIL Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2025, 10:11 - A | A

Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2025, 10h:11 - A | A

ALIADA AO PCC

Facção venezuelana recruta brasileiros para tráfico, prostituição e garimpo ilegal na região Norte

A facção também tem atuado em Manaus, além de cidades fronteiriças no Amazonas.

18 Horas

 

Tratada como organização terrorista pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que promete pagar até US$ 5 milhões pela prisão de seus líderes, a facção venezuelana Tren de Aragua ganha território no Norte do Brasil. De acordo com reportagem publicada no jornal O Globo, a estratégia do grupo para se expandir inclui o recrutamento de brasileiros, o domínio de rotas de tráfico de drogas, pontos de prostituição, garimpos de ouro e uma aliança com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

 

Relatórios da Polícia Civil e do Ministério Público obtidos pelo GLOBO destacam os métodos violentos usados para eliminar desafetos e tomar territórios. Em janeiro investigadores identificaram um cemitério clandestino em Boa Vista com dez corpos — a maioria com marcas de perfuração por faca. A suspeita dos policiais é que eram desafetos do Tren de Aragua, que assumiu o controle de bocas de fumo em pelo menos cinco bairros da capital de Roraima. A facção também tem atuado em Manaus, além de cidades fronteiriças no Amazonas.

 

— Como são mais violentos, expulsam os traficantes locais. Houve alguns embates com as facções brasileiras. Mas depois de um arranjo com o PCC, os venezuelanos passaram a cooptar brasileiros — disse o delegado Wesley Costa, titular da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco).

 

Criada a partir de um sindicato de trabalhadores ferroviários e expandida por detentos do presídio de Tocorón, a 140 quilômetros de Caracas, a facção venezuelana foi a única da América Latina a ser classificada como “organização terrorista estrangeira” em um decreto assinado por Trump logo após a sua posse, em 20 de janeiro. Além de Brasil, EUA e Venezuela, investigações apontam a presença do Tren da Aragua na Colômbia, Chile, Equador, Peru e Bolívia, com forte atuação nas regiões de fronteira.

 

A Polícia Civil de Roraima aponta os irmãos venezuelanos Antônio e Daniel Cabrera como dois dos principais líderes da facção no Brasil. Os dois estão presos desde o ano passado por tráfico de drogas, homicídio qualificado e associação criminosa.

 

Em novembro, ao prender Antonio em uma fazenda em Mucajaí (RR), onde ele criava porcos, os policiais apreenderam US$ 32 mil dólares, joias e oito celulares. Mensagens capturadas pelos investigadores apontaram que ele negociava a compra de fuzis para o grupo.

 

O domínio da facção em Roraima cresceu com o fluxo de imigrantes na fronteira — de 2015 a 2024, mais de 568 mil venezuelanos entraram no Brasil como refugiados. Houve uma escalada no número de assassinatos no estado, que passou de uma média de 60 por ano para mais de 200, segundo a Polícia Civil.

 

A maioria das vítimas da quadrilha estrangeira também é da Venezuela. No livro “Tren de Aragua: la banda que revolucionó el crimen organizado em América Latina”, publicado em 2023, a jornalista venezuelana Ronna Risquez diz que os principais alvos da facção são justamente os imigrantes.

 

Risquez relata que o grupo se aproveita da vulnerabilidade de venezuelanos, cobrando altas taxas para levá-los ao Brasil, Colômbia e Chile em trilhas clandestinas abertas na selva amazônica. Endividados e ameaçados de morte, os imigrantes têm de prestar serviços à facção. Uma parte vira “mula”, passando drogas e armas na fronteira; outra é recrutada para a prostituição, e outra, usada em garimpos na Amazônia.

 

Em depoimento à polícia, a mãe de uma vítima morta pela facção em 2022 relatou que o filho costumava trabalhar no garimpo da Venezuela, indo e vindo de Santa Elena de Uiarén, que faz divisa com Pacaraima (RR).

 

A crueldade nas execuções é a assinatura do grupo — ao mesmo tempo em que chama a atenção da polícia, o método provoca medo na população para evitar delações. Em junho de 2021, o corpo de um venezuelano foi encontrado esquartejado em um saco de lixo em Boa Vista. A Polícia Civil concluiu que o crime foi ordenado por um dos líderes do Tren de Aragua, foi preso em flagrante com uma submetralhadora, duas pistolas, munições e um caderno com anotações de uma suposta contabilidade do tráfico.

 

Sistema prisional

A expansão da facção no Brasil também preocupa autoridades do governo federal. O Ministério da Justiça monitora o avanço do grupo em cidades brasileiras. Segundo o secretário nacional de Políticas Penais, André Garcia, os presídios de Roraima vivem em tensão em razão do elevado número de estrangeiros. Garcia diz que enviará recursos para aumentar a oferta de vagas. Atualmente, há 418 venezuelanos em cadeias do estado.

 

— Há um impacto muito grande em um sistema relativamente pequeno de presos. Esse número é quase uma unidade prisional inteira. Embora esteja tensionado, o sistema está controlado e retomado — disse Garcia, referindo-se a operações passadas que transferiram líderes de facções para outros locais.

 

Em 2018, uma investigação da Ministério Público encontrou listas de batismo de venezuelanos ao PCC na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, a maior de Roraima. De lá para cá, passou a ser percebido também um movimento de brasileiros que são cooptados pelo Tren de Aragua.

 

Responsável pela administração penitenciária de Roraima, o secretário de Justiça e Cidadania, Hercules Pereira, afirmou que separa os venezuelanos em uma ala para evitar o contato entre facções brasileiras e estrangeiras.

 

— Nossa inteligência detectou que o Tren de Aragua é o maior grupo estrangeiro com atuação no sistema em Roraima. A situação está controlada, mas precisamos de um novo bloco destinado aos estrangeiros — disse Pereira.

 

Na Venezuela, a facção montou um quartel-general em Tocorón, com celas de luxo, piscina, cassino e até um zoológico. A expansão da facção ocorre durante uma crise financeira da Operação Acolhida, que atende imigrantes na fronteira. O governo Trump, contudo, suspendeu a verba para a agência da ONU que atua no programa em parceria com o governo brasileiro. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, admitiu que chegou a cogitar em encerrar a operação, mas voltou atrás porque isso seria deixar o acampamento ser dominado pela facção.

 
 

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