O policial Rogério de Almeida Felício, apelidado como Rogerinho Punisher, foi preso na manhã desta segunda-feira ao se entregar para as autoridades em Santos, no litoral de São Paulo. Ele estava foragido desde semana passada, após a deflagração da operação Tacitus pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público (PF) contra corrupção de agentes. Ele também chegou a ser citado na delação do empresário Vinicius Gritzabch, delator do PCC assassinado em outubro no Aeroporto de Guarulhos.
Também apontado como segurança do cantor Gusttavo Lima, Rogerinho é investigado por sua possível ligação com o PCC e por ostentar um relógio que teria sido furtado de Gritzbach. Em sua delação premiada, o empresário apresentou prints das redes sociais, onde o policial aparece com o item, o que sugere que o objeto era fruto de transações ilegais.
Em nota, a Delegacia Geral de Polícia informou que Rogério de Almeida Felicio se entregou após firmar um acordo por meio de sua defesa. O policial foi apresentado na sede do DEINTER 6 e será levado à Corregedoria da Polícia Civil em São Paulo.
A Polícia Civil também ressaltou que não compactua com desvios de conduta e que a força-tarefa criada para investigar o homicídio ocorrido no Aeroporto Internacional de Guarulhos segue em diligências para esclarecer o caso. Ainda em nota, as corregedorias das polícias Civil e Militar reafirmaram sua colaboração com as apurações para que todos os agentes envolvidos sejam punidos conforme a lei.
Durante uma operação na última terça-feira, a PF e o MP cumpriram mandados de prisão temporária do delegado Fábio Baena e de outros três policiais civis, identificados como Eduardo Lopes Monteiro, Marcelo Ruggieri e Marcelo Marques de Souza (Marcelo Bombom). Na ocasião, Rogerinho não foi encontrado.
Entenda a ligação de Gritzbach com os policiais presos
Gritzbach foi preso temporariamente em 2022 pelos agentes durante as investigações da morte de Anselmo Becheli Santa Fausta, o "Cara Preta", e Antônio Corona Neto, o "Sem Sangue", apontados como membros do PCC. Durante a prisão teriam ocorrido pedidos de propina, sugeridos ao empresário por um de seus advogados.
Em uma das conversas com o Ministério Público, realizada no dia 16 de julho deste ano, o delator afirma que os investigadores Eduardo Monteiro e Rogério de Almeida Felício também agiram para tomar a propriedade de um sítio que ele tinha adquirido na Grande São Paulo e que teriam transferido o imóvel para um laranja. O empresário afirma que os investigadores apreenderam o contrato de compra e venda da propriedade durante uma operação de busca e apreensão em sua casa.
Ele também afirma que a ação de tomada do sítio contou também com a participação de um policial chamado de 'Flavinho', que não tem o nome completo mencionado, e que também estava na equipe do delegado Baena.
Em nota encaminhada ao GLOBO, a defesa do delegado Fabio Baena e do investigador Eduardo Monteiro, representados pelo escritório do advogado Daniel Bialski, rebatem as afirmações de Gritzbach na delação.
"Inadmissível no Brasil se banalizar o direito à liberdade, decretando-se prisão midiática, sem contemporaneidade, e o mais grave, por fatos que já foram investigados e arquivados pela Justiça, por recomendação do próprio Ministério Público. A palavra pueril de um mitômano, sem qualquer elemento novo de prova, não poderia jamais motivar medida tão excepcional, afrontando o status dignitatis e libertatis dos nossos constituídos", diz o texto.
Ao Jornal Nacional, da TV Globo, o advogado de Ruggieri disse que não teve acesso aos autos, mas considera prematura a prisão. A defesa de Rogério afirmou que ele é inocente e vai tomar as medidas legais cabíveis. O advogado de Robinson alegou que o empresário é “uma pessoa de conduta ilibada” e que prestou todos os esclarecimentos à Justiça.
Em nota encaminhada após a operação da semana passada, a Balada Eventos, que administra a carreira de Gusttavo Lima, afirma que Rogério Felício prestou serviços em shows como integrante da equipe de segurança do artista. "Tomamos conhecimento da operação e esperamos que todos os fatos sejam devidamente esclarecidos perante a autoridade policial que preside a investigação", diz a empresa.
Rogerinho era agente de telecomunicações policial e recebeu uma promoção em dezembro de 2023, virando agente de primeira classe. Pelo trabalho na Polícia Civil ele recebia uma remuneração de R$ 7490. Segundo o Diário Oficial do estado Rogerinho atuava em 2024 na cidade de Santos, no litoral paulista. Em 12 de novembro ele foi transferido do DEIC (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) de Santos para o Deinter (Departamento de Polícia Judiciária) da mesma cidade. Foi afastado em dezembro do cargo, após o início das investigações.
Segundo a base de dados da Receita Federal, Rogerio é sócio de quatro empresas. Uma delas é uma firma de segurança com sede em Santos que leva o nome 'Punisher', apelido que ele adota nas redes sociais, onde acumula 100 mil seguidores.
Aparece ainda uma clínica de estética localizada na Vila Clementino, Zona Sul de São Paulo, uma construtora com sede em Santos e uma empresa de administração de bens com sede em Praia Grande. Somadas, as empresas tem um capital social de cerca de R$60.000.
A construtora, no entanto, chamada de Magnata, faz propaganda nas redes sociais de diversos condomínios que teriam sido construídos pela empresa, como um conjunto de oito sobrados em que cada casa é vendida por R$ 230.000 em um bairro de Praia Grande.