A metodologia empregada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para calcular a taxa de desemprego no Brasil tem levantado questionamentos sobre sua capacidade de refletir a realidade do mercado de trabalho. Uma das críticas mais recentes é a exclusão de beneficiários do programa Bolsa Família como parte da força de trabalho, sob o argumento de que muitos deles não estão disponíveis para trabalhar ou não buscam emprego ativamente, critérios que os retiram do cálculo da taxa de desemprego. No entanto, essa abordagem é apontada como uma distorção, uma vez que, ao ignorar uma parcela significativa da população, o índice oficial acaba subestimando o desemprego real.
Como funciona o cálculo atual do desemprego
O IBGE utiliza critérios baseados na metodologia da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que considera como desempregada apenas a pessoa que, na semana de referência, não exerceu nenhuma atividade remunerada, estava disponível para trabalhar e procurou emprego ativamente. Beneficiários de programas como o Bolsa Família, por receberem assistência governamental, muitas vezes não são contabilizados como parte da força de trabalho, já que podem não atender a esses critérios.
Embora essa metodologia seja padrão internacional, sua aplicação em um contexto como o brasileiro, onde a informalidade e a dependência de programas sociais são elevadas, pode gerar uma visão incompleta da situação econômica. Dados oficiais sugerem que cerca de 21,2 milhões de famílias recebem o Bolsa Família, segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (dados de dezembro de 2024).
Impacto no índice de desemprego: uma análise alternativa
Para entender o impacto da inclusão dos beneficiários do Bolsa Família no cálculo do desemprego, é necessário fazer uma projeção. Se considerarmos que nenhum dos beneficiários do programa está empregado (o que seria um cenário extremo, mas ilustrativo), todos deveriam ser contabilizados como desempregados. A seguir, apresento uma estimativa:
1. População economicamente ativa (PEA): De acordo com os dados mais recentes do IBGE, a PEA do Brasil é de aproximadamente 108 milhões de pessoas.
2. Desemprego oficial: A taxa de desemprego oficial gira em torno de 7,9%, o que equivale a cerca de 8,5 milhões de desempregados.
3. Impacto dos beneficiários do Bolsa Família: Se incluirmos os 21,2 milhões de beneficiários do Bolsa Família, assumindo que todos eles estejam desempregados, o número total de desempregados subiria para 29,7 milhões de pessoas.
Com isso, a taxa de desemprego recalculada seria:
O resultado é uma taxa de desemprego ajustada de aproximadamente 27,5%.
Uma distorção preocupante
Esse exercício hipotético evidencia o impacto que a exclusão de beneficiários do Bolsa Família tem sobre os números oficiais. Embora seja sabido que nem todos os beneficiários estejam desempregados, a simples exclusão dessa parcela da população cria uma lacuna significativa na análise do mercado de trabalho.
Especialistas alertam que a metodologia vigente pode induzir interpretações equivocadas por parte de formuladores de políticas públicas e investidores, além de mascarar o alcance do desemprego estrutural no país. Em um contexto em que programas sociais são essenciais para milhões de brasileiros, é necessário repensar os critérios de análise para que os índices reflitam de forma mais fiel a realidade econômica.
O debate sobre como medir o desemprego de maneira mais inclusiva e transparente é essencial para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes. Ignorar parte da população na análise dos dados pode comprometer decisões estratégicas e aprofundar desigualdades.
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