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BRASIL Terça-feira, 28 de Janeiro de 2025, 15:49 - A | A

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PROJETO WORLD

Influencer “vende” íris dos olhos e se arrepende: “Tô com medo”

Pleno News

 

“Achei que era uma grana fácil, mas agora tô com medo”. Foi dessa forma que a influenciadora Caroline Vieira, de 22 anos, descreveu como se sente após tomar a arriscada decisão de “vender” o escaneamento das íris de seus olhos para a empresa Tools for Humanity (TFH) em troca de R$ 650 pagos em criptomoeda. A companhia está coletando dados de brasileiros em um processo irreversível e que foi suspenso em países europeus.

 

Em entrevista à revista Marie Claire, a criadora de conteúdo digital conta que ela e uma amiga estavam com planos de abrir uma loja e precisavam de dinheiro para comprar produtos. Incentivada pela futura sócia, ambas decidiram ir até o bairro do Ipiranga, em São Paulo, onde realizaram o escaneamento de suas íris para obter o dinheiro prometido pela TFH.

 

"O caminho que a gente traçou até lá era muito estranho e deserto. Parecia que o lugar seria totalmente aleatório. Nos vídeos que a gente via na internet, as pessoas faziam as vendas em shoppings ou em lugares mais movimentados, públicos", observou.

 

Caroline explica que, no local, havia cerca de dez pessoas na fila para passar pelo procedimento, e outros sete funcionários. Na sala de coleta dos dados, estava um aparelho chamado Orb, similar a uma câmera, que escaneia as informações dos olhos dos participantes.

 

"Para iniciar o processo, você tem que conectar o celular na rede Wi-Fi deles e, depois, assiste algumas imagens explicando sobre a coleta. Fiquei receosa porque é algo novo, mas eles explicam de uma forma tão tranquila que você nem pensa na hora, sabe?", disse ela em entrevista ao portal F5.

 

Caroline começou a repensar sua decisão quando já era tarde. O arrependimento surgiu quando ela percebeu que o pagamento não seria feito de maneira imediata, podendo levar meses para ser concluído.

 

"Consegui sacar R$ 196 após 24 horas. Depois dessa primeira parcela, eles podem disponibilizar o resto das criptomoedas em até 11 parcelas. Não dá nem R$ 50 por mês", queixou-se.

 

A preocupação com as consequências de sua atitude veio após a jovem publicar um vídeo falando sobre o tema nas redes sociais e receber uma enxurrada de comentários negativos. Em poucas horas, a gravação acumulou 3 milhões de visualizações e muitas críticas.

 

"Eu imaginei que o assunto ia render, mas tomei um susto com a proporção negativa que recebi. Na minha cabeça, estava fazendo algo que não ia afetar em nada no meu dia a dia", comentou.

 

Caroline afirma que depois de ser alertada pelos internautas, passou a pesquisar sobre os riscos de expor seus dados sem poder garantir de que maneira serão usados.

 

"Agora que entendi sobre o que se trata a empresa, acho perigoso sim. Tenho receio do que podem fazer com a minha íris no futuro, não dá para saber", ponderou.

 

Projeto World


O procedimento em questão é chamado Project World e visa criar o que o chefe de Operações da Tools for Humanity no Brasil, Rodrigo Tozzi, chama de “prova de humanidade”. Tozzi garante que o método é “seguro” e que permitirá a verificação de que você é um ser humano único na internet, protegendo o usuário de fraudes e hackers.

 

"Ela [a íris] possui uma confiança maior do que outras biométricas, como impressões digitais ou reconhecimento facial, tornando-a menos suscetível a mudanças causadas por fatores externos e, portanto, mais confiável. Com a verificação da íris, não há necessidade de solicitar informações pessoais, como nome, endereço ou documentos. O código gerado a partir da íris é tão sensível que até pequenas variações na textura resultam em códigos completamente diferentes, garantindo a singularidade de cada indivíduo. Mesmo entre gêmeos idênticos, as íris têm aparências completamente distintas", argumentou.

 

Especialistas, contudo, alertam que permitir a coleta de dados das íris é diferente de gerar uma senha por ser uma informação biométrica que possibilita identificar uma pessoa para o resto de sua vida.

 

"Por isso, essa coleta desenfreada, sem intenção clara de uso, preocupa tanto sob o ponto de vista de privacidade quanto de direitos humanos. Um dos princípios da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) é a transparência, mas, ainda hoje, não temos visibilidade clara de como esses dados serão utilizados pela tal empresa e/ou se serão associados a sistemas de Inteligência Artificial", advertiu a engenheira de dados, Carla Vieira.

 

Em nota, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, afirmou que abriu um procedimento em novembro de 2024 a fim de “investigar o tratamento de dados biométricos de usuários no contexto do projeto World ID”. Segundo o órgão, a TFH encaminhou os documentos solicitados, que estão em processo de análise.

 

 

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