A tensão no comércio internacional atingiu um novo patamar nesta quarta-feira (9) após os Estados Unidos, sob a liderança do presidente Donald Trump, anunciarem tarifas recíprocas a 117 países, incluindo uma nova e agressiva taxação de até 104% sobre produtos chineses. Em resposta, China, União Europeia e Canadá declararam medidas retaliatórias, aprofundando a guerra comercial.
China responde com força
Principal alvo das tarifas norte-americanas, a China anunciou que aplicará, já a partir desta quinta-feira (10), tarifas de 84% sobre todos os produtos importados dos EUA. O valor é resultado da soma de uma nova taxa de 50% com os 34% já em vigor desde a última sexta-feira.
O presidente Xi Jinping prometeu adotar ações “firmes e contundentes” para proteger os interesses chineses. Além do aumento das tarifas, o Ministério do Comércio da China incluiu seis empresas norte-americanas na lista de entidades não confiáveis.
“O sistema multilateral de comércio e a ordem econômica internacional serão defendidos com vigor pela China”, afirmou o ministro Wang Wentao.
União Europeia entra na disputa
Também nesta quarta, a União Europeia anunciou um pacote de retaliações, com tarifas de 25% sobre produtos como soja, carne, suco de laranja, itens de beleza e motocicletas. O impacto estimado é de 20 bilhões de euros (R$ 129,5 bilhões). A medida entra em vigor em 15 de abril.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reforçou que o bloco está aberto a negociações, mas preparado para agir:
“A Europa está sempre pronta para um bom acordo. Mas também estamos preparados para responder, por meio de medidas de retaliação, para defender nossos interesses.”
Apesar da linha dura, o uísque norte-americano foi retirado da lista, após pressão da França, preocupada com possíveis retaliações contra seus vinhos.
Canadá mira indústria automotiva
Mesmo não tendo sido diretamente atingido pelas novas tarifas de Trump, o Canadá decidiu reagir às tarifas já existentes e anunciou sanções focadas no setor automotivo.
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, comunicou que veículos dos EUA que não cumpram as regras do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Cusma) serão taxados em 25%, assim como partes que não tenham origem canadense ou mexicana.
“O presidente Trump causou essa crise comercial, e o Canadá está respondendo com propósito e força”, afirmou Carney, em meio à sua campanha eleitoral.
O ministro das Finanças, François-Philippe Champagne, classificou as tarifas americanas como “injustificadas e irracionais” e garantiu que o Canadá protegerá sua economia e seus trabalhadores.
Trump provoca e faz apelo a empresários
Em meio à instabilidade global, Donald Trump recorreu à sua rede Truth Social para incentivar empresários a relocarem suas empresas para os Estados Unidos, prometendo “tarifas zero” e agilidade na aprovação de infraestrutura energética.
“Não espere. Faça agora”, escreveu o presidente, que defende as tarifas como estratégia para reativar a indústria manufatureira do país.
Durante um jantar com republicanos, Trump ainda provocou líderes estrangeiros com declarações polêmicas:
“Esses países estão nos ligando, puxando o meu saco. Eles estão doidos para fazer um acordo.”
Impacto global e incertezas
Com bolsas de valores em queda e tensões crescentes entre grandes potências econômicas, a guerra comercial ameaça desestabilizar ainda mais a economia global. A escalada de medidas protecionistas coloca em xeque os esforços multilaterais de livre comércio e deixa incertezas sobre o futuro das relações comerciais internacionais.