A recente suspensão da assistência militar e financeira dos Estados Unidos à Ucrânia, anunciada pela Casa Branca em 4 de março, pode ter um impacto significativo na guerra contra a Rússia.
No entanto, mais do que a suspensão direta de ajuda, um fator adicional pode dificultar ainda mais os esforços da Europa para apoiar Kiev: a regulamentação ITAR (International Traffic in Arms Regulations).
Esse conjunto de normas permite que os EUA bloqueiem a entrega de equipamentos e munições adquiridos por outros países, caso esses itens contenham componentes fabricados em solo norte-americano.
Com grande parte do arsenal europeu incorporando tecnologia dos Estados Unidos, a aplicação da ITAR poderia gerar um verdadeiro embargo indireto às remessas de armas destinadas à Ucrânia.
Dependência e Alternativas
Nos últimos anos, países europeus têm tentado reduzir sua vulnerabilidade em relação às regulamentações norte-americanas, desenvolvendo armamentos chamados “ITAR-free”, ou seja, livres de restrições impostas pelos EUA.
A França, por exemplo, incentivou sua indústria bélica a evitar componentes que exijam autorização de exportação dos americanos.
Apesar desses esforços, muitos equipamentos essenciais ao conflito ainda dependem de tecnologia norte-americana. Isso inclui caças F-16, mísseis guiados, veículos blindados e sistemas de visão noturna.
Caso Donald Trump, favorito à presidência nas eleições de 2024, retorne ao poder e decida aplicar essa regulamentação de forma mais rígida, o fornecimento de armas à Ucrânia pode ser severamente comprometido.
O Que Trump Quer?
Apesar do risco de um bloqueio total, alguns sistemas estratégicos ainda permanecem operacionais, como a rede de comunicação via satélite Starlink, de Elon Musk, fundamental para as forças ucranianas, e as baterias de mísseis Patriot, que protegem o espaço aéreo do país contra ataques russos.
O uso da ITAR como ferramenta de pressão reforça a postura de Trump, que já se mostrou cético em relação ao apoio irrestrito à Ucrânia.
A incerteza sobre a posição dos EUA em um possível segundo mandato do ex-presidente preocupa aliados europeus e levanta questionamentos sobre o futuro da resistência ucraniana frente à Rússia.
Se a regulamentação for aplicada com rigor, a Europa terá de buscar soluções urgentes para evitar que a Ucrânia fique sem suprimentos críticos em meio a uma guerra que já dura mais de dois anos.