Depois de seis décadas ocupando cargos públicos e disputando eleições, Carlos Bezerra, um dos principais nomes da política mato-grossense, anunciou sua despedida da presidência estadual do MDB. Aos 83 anos, o ex-governador, ex-senador e ex-deputado federal reflete sobre sua trajetória e afirma que chegou o momento de “desfrutar a vida”.
“Agora minha meta é vadiar. Vou aproveitar o resto da minha vida, desfrutar um pouco. Nesses quase 60 anos, isso aí [política] foi minha vida. Então, acho que tenho o direito de me dar esse luxo”, declarou Bezerra.
Uma história marcada pela resistência
A trajetória política de Carlos Bezerra começou ainda na juventude, quando foi eleito presidente do Grêmio Estudantil do Liceu Cuiabano. Sua atuação o destacou como uma das lideranças emergentes no Estado, mas também o colocou no radar do regime militar.
Em 1969, foi preso pela Ditadura sob acusação de ser comunista – o que ele nega. “Nunca fui comunista, mas fui trabalhista. Getúlio Vargas foi o meu grande líder, que me trouxe para essa posição política”, explicou. Após três anos detido, foi solto em 1972 e passou a atuar ativamente contra o regime, ajudando a fundar o MDB em Mato Grosso.
Com o partido, Bezerra construiu uma longa trajetória política, ocupando os cargos de prefeito de Rondonópolis, governador de Mato Grosso, senador e deputado federal. No comando do Palácio Paiaguás entre 1987 e 1990, ele afirma ter priorizado áreas como Saúde, Educação e Reforma Agrária.
“Assentamos 90 mil famílias em Mato Grosso sob minha influência. Muitos municípios nasceram dessa política”, recorda.
O futuro do MDB sem Bezerra
À frente do MDB estadual por 30 anos, Bezerra foi peça-chave para a consolidação do partido em Mato Grosso. Agora, ele acredita que chegou o momento de deixar a liderança. A eleição para o Diretório Estadual será em agosto, mas ele ainda não tem um sucessor favorito.
“Tenho certeza que os companheiros que ficarão saberão tocar. E talvez até melhor do que eu. Eles têm que tomar conta mesmo, está na hora”, disse.
Mesmo fora da presidência, Bezerra seguirá no MDB e pretende continuar contribuindo. “Os companheiros sempre estão me procurando, conversando. Vou continuar por perto”.
Críticas à política atual
Ao longo das décadas, Bezerra acompanhou as transformações do cenário político e, na sua visão, o momento atual é de retrocesso. Ele critica o avanço da extrema-direita e lamenta que políticos eleitos recentemente tenham exaltado a Ditadura Militar.
“O candidato que ganhou a presidência recentemente, ele ganhou em partes exaltando a ditadura militar no Brasil. Defendendo os militares que mataram, que assassinaram. Isso é o absurdo dos absurdos”, afirmou.
Apesar de sua aposentadoria política, Bezerra faz questão de reforçar a importância da política feita com seriedade e comprometimento.
“A política é uma ciência. O caminho para ter uma governança correta é por aí. O resto é patifaria”, concluiu.