Um estudo publicado no periódico The Lancet Respiratory Medicine, no dia 3 de fevereiro, apontou que enquanto os casos de câncer de pulmão relacionados ao tabagismo vêm diminuindo no mundo, há um aumento do diagnósticos da doença em não fumantes. A poluição do ar, tanto interna quanto externa, agora aparece como um dos principais causadores do câncer de pulmão. O estudo foi feito por pesquisadores da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS).
O câncer de pulmão é a principal causa de incidência e mortalidade por câncer em todo o mundo. De acordo com a Iarc, a estimativa é que o câncer de pulmão em pessoas que nunca fumaram seja a quinta maior causa de mortes por câncer em todo o mundo. Segundo a OMS, quase metade dos casos de câncer de pulmão em pessoas que nunca fumaram estão relacionados à poluição atmosférica -composta por partículas tóxicas de escapamentos de veículos, processos industriais, queima de biomassa e outras fontes. Essas partículas, ao serem inaladas, causam inflamação crônica e danos celulares que podem levar ao desenvolvimento de câncer. Além disso, a fumaça do cigarro, que contém mais de 40 compostos cancerígenos e outros tóxicos, não afeta apenas os fumantes ativos, mas também os passivos.
“A poluição do ar é um fator de risco subestimado, mas extremamente perigoso. Ela aumenta a incidência de câncer de pulmão e está associada, ainda, a doenças cardiovasculares e respiratórias”, explica o médico patologista Carlos Aburad. “O adenocarcinoma, subtipo mais comum em não fumantes, está diretamente ligado à exposição prolongada a ambientes poluídos”, afirma.
Além disso, a poluição interna, causada principalmente pelo tabagismo, é também um risco à saúde. Quando as partículas tóxicas do cigarro permanecem no ambiente, mesmo após ser apagado, há uma exposição de não fumantes a substâncias cancerígenas. “Muitas pessoas não percebem que estão constantemente expostas a esses riscos em casa, no trabalho ou em espaços públicos. A conscientização e a adoção de medidas preventivas são essenciais para reduzir a incidência da doença”, alerta.
Os especialistas destacam a importância de medidas coletivas e individuais para combater os efeitos da poluição e do tabagismo passivo. “No ambiente de trabalho, por exemplo, é crucial a remoção ou substituição de agentes cancerígenos, além do controle da qualidade do ar. A realização periódica de exames médicos também é fundamental para a detecção precoce de doenças relacionadas à exposição a poluentes”, afirma Carlos Aburad.
O médico patologista complementa que a mudança começa com a educação. “É preciso que a população tenha consciência sobre o tabagismo passivo. Além disso, são necessárias políticas públicas que promovam a qualidade do ar e a saúde coletiva”, avalia.
Câncer de pulmão em números
O câncer de pulmão de acordo com estimativas 2023 do Instituto Nacional de Câncer (INCA), é o terceiro mais comum em homens (18.020 casos novos) e o quarto em mulheres no Brasil (14.540 casos novos) - sem contar o câncer de pele não melanoma. A doença é a primeira em todo o mundo em incidência entre os homens e a terceira entre as mulheres. Dados mundiais de 2020 mostram que houve a incidência de 2,2 milhões de casos novos - 1,4 milhão em homens e 770 mil em mulheres.
De acordo com o Inca, em cerca de 85% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco. Outro fator de risco está relacionado à exposição a agentes carcinogênicos (asbesto, arsênico, berílio e cádmio, entre outros) no trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 17% a 29% dos casos de câncer de pulmão estejam relacionados ao tempo de exposição a substâncias cancerígenas, ao ambiente de trabalho e a fatores genéticos.