Em 2004, a atriz Taís Araújo fez história ao estrelar Da Cor do Pecado, a ideia de uma mulher negra à frente de uma trama de grande audiência parecia fora de alcance. No entanto, vinte anos depois, a história da teledramaturgia brasileira começa a ser reescrita, com um avanço significativo na representatividade e visibilidade das mulheres negras na TV.
Pela primeira vez, três mulheres negras protagonizam as principais novelas da emissora Globo. Duda Santos, Jéssica Ellen e Gabz são as novas protagonistas que, desde o início de novembro, estão levando emoção e diversão para as famílias brasileiras em suas respectivas tramas.
Duda Santos, que fez sua estreia na última segunda-feira (4) como a protagonista da novela Garota do Momento, compartilha a importância de viver esse papel histórico. A atriz, que interpreta a personagem central da trama das 19h, afirma que estar nesse lugar é um sonho realizado, especialmente para as gerações anteriores de sua família, que talvez nunca imaginaram uma realidade como essa. "Realizar esse sonho diante da minha avó e de gerações da minha família, que talvez nunca imaginaram essa possibilidade, é algo realmente especial", disse a atriz.
Gabz, protagonista de Mania de Você, trama das sete horas, também expressou a responsabilidade que sente ao ocupar esse espaço na TV. Para ela, a representatividade nas telas é mais do que um simples reflexo da sociedade, mas um catalisador de mudanças profundas. "Quando tocamos a vida de pessoas que nunca tiveram essa representatividade, causamos uma grande mudança, e isso precisa ser feito da melhor maneira possível", afirmou. "Acredito que nossos ancestrais estão olhando por nós e que precisamos honrá-los", completou.
Já Jéssica Ellen, que interpreta Viola, uma chef de cozinha renomada em Volta por Cima, novela das 21h, reflete sobre a importância dessa visibilidade para as futuras gerações. "Estamos sendo vistos não só por nós mesmos, mas por todo o mundo. Teve uma demora para que a televisão brasileira retratasse de fato a diversidade que o nosso país tem", observou. Ela lembra que, no passado, muitas produções da TV Globo eram exibidas em outros países, mas a falta de diversidade era evidente. "Se a gente olha um tempo atrás, existiam novelas que passavam fora do país, e isso [a falta de diversidade] era o que era posto e exposto", relembra Jéssica.
Em 2023, outras atrizes negras também estiveram no centro das tramas, como Barbara Reis em Terra e Paixão, Sheron Menezzes em Vai na Fé, e Diogo Almeida em Amor Perfeito. No entanto, foi em 2024 que esse movimento ganhou um caráter mais visível e simultâneo, com as três atrizes negras no protagonismo de três novelas ao mesmo tempo.
Para essas atrizes, ocupar esses espaços vai além de um marco pessoal e profissional; é também um ato de resistência e de reconhecimento do valor de um povo que, por muito tempo, esteve à margem.
