menu
18 de Abril de 2025
facebook instagram whatsapp
lupa
menu
18 de Abril de 2025
facebook instagram whatsapp
lupa
fechar

VARIEDADES Quinta-feira, 10 de Abril de 2025, 14:21 - A | A

Quinta-feira, 10 de Abril de 2025, 14h:21 - A | A

RELATO REAL

O que a mulher faz depois que deixa de ser acompanhante?

O livro, que mistura memórias, crônicas e reflexões existenciais, é uma tentativa de compreender e ressignificar uma fase intensa e, segundo ela, profundamente contraditória.

Ana Barros

 

A resposta talvez não caiba em um rótulo simples. No caso de Cláudia de Marchi, ela virou advogada de novo, fez mestrado, enveredou pela academia, enfrentou a dor, escreveu sobre ela — e agora transforma tudo isso em literatura.

 

Em 2016, Cláudia tomou uma decisão radical: deixou para trás uma carreira jurídica de 11 anos, rompeu com a rotina regrada da cidade de Sorriso (MT) e mergulhou na vida agitada de Brasília. Lá, se tornou cortesã — uma acompanhante de luxo de fama internacional. Anos depois, em 2022, ela abandonou o ofício e iniciou um novo processo de reinvenção: voltou ao Rio Grande do Sul, retomou a advocacia, aprofundou a vida acadêmica e, agora, acaba de lançar o livro “Caótica”, pela Editora Bestiário.

 

 

 

O livro, que mistura memórias, crônicas e reflexões existenciais, é uma tentativa de compreender e ressignificar uma fase intensa e, segundo ela, profundamente contraditória.


“Usei esse tempo pra fazer a publicidade do livro falando do ex-amante, né? Foi um ritual. Nunca mais vou escrever sobre esse caso traumático da minha vida. Ele morreu da minha escrita”, declarou Cláudia.

 

O luto depois da paixão


Após encerrar sua vida como acompanhante, Cláudia viveu um relacionamento com um homem casado, o que ela hoje considera uma traição aos próprios princípios.


“A gente tem os nossos princípios basilares. Dentro dos meus, está nunca ficar com um homem casado. Mas eu me traí. Amante é a pior posição que uma mulher pode ocupar na vida de um homem. É ser prostituta sem dignidade”, desabafa.

 

A experiência, que ela chama de "calvário", atravessa as páginas de Caótica. Não como denúncia ou acusação, mas como uma tentativa de cura.


“Não estou 100% recuperada, talvez nunca esteja. Mas escrevi com sinceridade. Escrever é a forma que encontrei de lidar com a culpa e tentar me perdoar”, afirma.

 

Múltiplas versões de si


Cláudia não se define por um único papel. Ela já foi professora universitária, administradora de loja de pneus, vendedora de vinhos durante a pandemia, mestranda em Teoria da Literatura, doutoranda bolsista da Capes — e sempre cronista.


“Eu sou tantas sendo uma. Um único corpo, uma infinidade de mulheres”, escreve em um dos trechos mais marcantes do livro.

Ela admite que não quer agradar a todos, e que nunca foi unânime.

 

“Eu escrevo com a responsabilidade de ser honesta. E isso exige coragem. A escrita é minha forma de resistência”, declara.

Caótica, seu terceiro livro, não segue ordem cronológica. Cláudia prefere que o leitor flane entre as crônicas, sentindo o caos e a transformação em cada linha. Ela escreve sobre luto, culpa, desejo, poder e, sobretudo, sobre o direito de se reconstruir quantas vezes for preciso.

 

 

 

Uma mulher que escreve sua própria história


No fim das contas, a pergunta segue em aberto: o que a mulher faz depois que deixa de ser acompanhante? No caso de Cláudia, ela estudou, se apaixonou, se desiludiu, sofreu, voltou a trabalhar com direito, e escreveu um livro que não apenas encerra um ciclo — mas pode também abrir caminhos para outras mulheres refletirem sobre liberdade, desejo, amor e dignidade.

 

“Falar sobre minha trajetória cabe unicamente a mim. E ninguém além de mim pode escrever sobre isso com a verdade que carrego”, pontua.

 

Sobre a autora:


Cláudia de Marchi é advogada, cronista e pesquisadora. Doutoranda em Teoria da Literatura e bolsista da Capes, é autora dos livros Contra a Maré, Minha Vida em Crônicas (2017), Crônicas da Vida (2017) e, agora, Caótica (2024). Ficou conhecida por sua trajetória como cortesã de luxo, tema que explora com coragem, crítica e vulnerabilidade. Atualmente, vive em Porto Alegre.

 

Caótica" foi lançado no último dia 29 de março pela Editora Bestiário, de Porto Alegre. A obra pode ser adquirida neste link.

 

Cláudia lançou o livro "Contra a Maré: minha vida em crônicas e crônicas da vida", uma seleção com escritos que expressam a sua evolução como mulher entre 2003 e 2016, quando tornou-se cortesã em Brasília. Em 2018, lançou "De encontros sexuais a crônicas: o diário de uma advogada e acompanhante de luxo feminista", mas pediu a despublicação da obra em 2023.

> Click aqui e receba notícias em primeira mão.

 

VÍDEO


Comente esta notícia