A inadimplência empresarial no Brasil alcançou o recorde de 7 milhões de empresas em 2024, representando quase um terço de todas as companhias do país, segundo dados do Serasa Experian. A alta dos juros e a valorização do dólar têm intensificado o endividamento, e as projeções para 2025 indicam que o cenário pode se agravar ainda mais. Informações do portal Hora Brasília.
Em outubro, logo após a Selic ser elevada para 12,25%, 100 mil novas empresas passaram a figurar no rol dos inadimplentes, interrompendo uma estabilidade que durava cinco meses. Luiz Rabi, economista-chefe do Serasa, alerta que a taxa de juros tem um impacto direto sobre a inadimplência empresarial, assim como a inflação afeta a inadimplência do consumidor. Para ele, não há previsão de alívio nos próximos meses. "Nesse cenário, não esperamos nenhum tipo de arrefecimento nos próximos dois trimestres", afirma.
O impacto da crise econômica tem sido mais severo para micro e pequenas empresas (PMEs), que possuem menor capacidade de absorver choques macroeconômicos. Já as grandes corporações, apesar de terem maior acesso a crédito, também enfrentam dificuldades, especialmente pelo alto volume de dívidas em moeda estrangeira. Levantamento da Elos Ayta Consultoria mostra que, até setembro, 40% das dívidas de 101 grandes empresas de capital aberto estavam atreladas ao dólar, somando R$ 353 bilhões. Com a moeda americana acima de R$ 6 no quarto trimestre, esse montante subiu para R$ 392 bilhões. “A variação cambial pode corroer lucros, reduzir investimentos e até comprometer balanços financeiros. Sem estratégias de hedge, o impacto será ainda maior”, aponta Einar Rivero, responsável pela pesquisa.
O Banco Central tem adotado uma postura agressiva no controle da inflação, com sucessivos aumentos da taxa de juros desde setembro. A Selic, que atualmente está em 12,25%, pode superar 15% ao ano em 2025, de acordo com previsões de grandes bancos como Itaú e Bradesco. Para Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, essa elevação terá um impacto severo sobre as empresas. “As empresas com dívidas enfrentarão resultados financeiros piores, o que pode exigir cortes de custos, demissões e ajustes operacionais. Além disso, o crédito ficará ainda mais caro e seletivo”, explica.
Esse quadro tem levado muitas empresas a recorrerem à recuperação judicial. De janeiro a setembro, 1,7 mil empresas pediram proteção judicial, um aumento de 73% em relação ao mesmo período de 2023. O Serasa projeta que o número de pedidos ultrapasse 2 mil até o final de 2024, superando o recorde da crise de 2015-2016. A modalidade extrajudicial também tem sido mais buscada, com um aumento superior a 300% nos valores renegociados, totalizando R$ 31 bilhões. “Com a Selic em 15%, veremos reestruturações forçadas e uma forte restrição ao crédito em 2025. Empresas com alto grau de alavancagem terão dificuldades para se manter”, alerta Ricardo Knoepfelmacher, consultor da RK Partners.
Ricardo Teixeira, professor da FGV, destaca os impactos em cascata do aumento do endividamento. “Empresas endividadas podem repassar os custos financeiros ao consumidor, pressionando ainda mais os preços. Ao mesmo tempo, algumas precisarão cortar custos, o que pode incluir demissões”, explica.
A dívida média das empresas brasileiras, que era de R$ 18,8 mil em 2019, subiu 18% em um ano e alcançou R$ 22,4 mil em outubro de 2024, o maior valor já registrado. Com o cenário de juros altos e dólar valorizado, a situação para as empresas segue desafiadora, e a expectativa é de que as dificuldades financeiras se intensifiquem ao longo de 2025.