Mato Grosso registrou, em 2024, 102 conflitos por terra, afetando diretamente 14.581 pessoas, de acordo com o relatório Conflitos no Campo Brasil 2024, divulgado nesta quarta-feira (23) pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). No total, o estado somou 121 conflitos no campo, entre disputas por território, água e casos envolvendo condições de trabalho, atingindo 127.736 pessoas.
Em todo o país, foram identificados 2.185 conflitos no campo, envolvendo cerca de 904 mil pessoas. O número representa um aumento de mais de 100 mil pessoas afetadas em comparação a 2023, mesmo com uma leve redução no número total de ocorrências — foram 2.250 registros no ano anterior.
Os dados mostram que a maior parte dos conflitos envolve disputas por posse e ocupação da terra, incluindo despejos, ameaças, destruição de moradias, grilagem e outras formas de pressão sobre comunidades rurais. O levantamento também atribui grande parte dos incidentes a ações de fazendeiros, grileiros, empresários e madeireiros.
O relatório destaca ainda a atuação do grupo denominado Movimento Invasão Zero, formado por grandes produtores rurais e com ações voltadas à oposição de ocupações de terras. Embora os principais episódios de confrontos associados ao grupo tenham ocorrido na Bahia, Maranhão e Espírito Santo, o documento aponta a possibilidade de ações coordenadas também em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ceará e Santa Catarina, conduzidas por grupos locais de produtores.
No Congresso Nacional, a região Centro-Oeste concentrou 44% dos projetos de lei relacionados ao tema “Invasão Zero” entre 2023 e 2024, com destaque para proposições de parlamentares do Mato Grosso do Sul. Essas iniciativas têm como objetivo tratar da criminalização de ocupações de terras e retomadas de posse por parte de movimentos sociais e comunidades tradicionais.
Segundo a CPT, os grupos mais afetados pelos conflitos incluem povos indígenas (29% dos casos), posseiros (425 registros) e quilombolas (221 casos). O relatório também aponta que o Maranhão concentra o maior número de ocorrências entre povos e comunidades tradicionais.
Durante o lançamento do relatório, representantes da Comissão destacaram o papel do documento como instrumento de monitoramento e visibilidade sobre as situações vivenciadas no campo. A publicação é anual e reúne dados obtidos a partir de denúncias, acompanhamento de comunidades e informações divulgadas por órgãos públicos e imprensa.
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