O Brasil registrou no primeiro trimestre de 2025 a maior saída líquida de dólares da série histórica iniciada em 1982. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, o saldo do fluxo cambial ficou negativo em US$ 15,8 bilhões, superando os US$ 11,4 bilhões negativos do mesmo período de 2020, auge das incertezas provocadas pelo início da pandemia de covid-19.
A fuga de dólares tem como pano de fundo o aumento das incertezas globais, com destaque para as tensões em torno da política comercial dos Estados Unidos, especialmente a possível taxação de produtos importados. O fluxo cambial é medido semanalmente pelo BC por meio do relatório “Movimento de Câmbio Contratado”, que contabiliza as entradas e saídas de dólares no país a partir dos contratos firmados entre bancos comerciais e o mercado não financeiro.
No trimestre, o canal financeiro — que inclui remessas de lucros, dividendos e investimentos — apresentou uma saída líquida de US$ 23,1 bilhões. Já o segmento comercial, que considera as exportações e importações, teve um saldo positivo de US$ 7,3 bilhões.
O mês de março de 2025, isoladamente, também bateu recorde negativo, com saída líquida de US$ 8,3 bilhões, a maior já registrada em um único mês desde o início da série. O recorde anterior havia sido em março de 2020, com US$ 6,6 bilhões.
Apenas em março, o canal financeiro teve uma saída de US$ 12,8 bilhões, enquanto a conta comercial registrou entrada líquida de US$ 4,5 bilhões. A metodologia do Banco Central exclui da conta comercial operações como encomendas internacionais, ajustes em transações comerciais e mercadorias entregues fora do país, focando nas operações efetivamente contratadas com o mercado.
Desde 1982, o maior volume de entrada líquida de dólares no país para o primeiro trimestre havia ocorrido em 2011, quando o saldo foi positivo em US$ 35,6 bilhões. Já a antiga maior fuga da moeda norte-americana era do primeiro trimestre de 1999, com saída de US$ 13,7 bilhões.