A prisão do político venezuelano Enrique Márquez, acusado pelo governo de Nicolás Maduro de articular um golpe de Estado, reacendeu tensões políticas no país e provocou forte repercussão internacional. A detenção foi denunciada por sua esposa, Sonia Lugo de Márquez, que afirmou que o marido foi "sequestrado por grupos paramilitares" e está sendo silenciado por sua oposição ao regime.
Alegações de golpe e formação de governo paralelo
Segundo o ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, Márquez estaria articulando, junto a outros opositores, a posse simbólica de Edmundo González, líder da Plataforma Unitária, em uma embaixada venezuelana no exterior. Cabello acusou González de planejar deslegitimar a eleição de 2024 e promover a criação de um governo paralelo.
“Como ele não pode ou não quer vir aqui, vão se reunir em uma embaixada estrangeira e juramentar Edmundo, alegando que ele está em território venezuelano. O responsável por isso é Enrique Márquez”, declarou Cabello.
Por outro lado, setores da própria oposição rejeitaram a ideia de um governo interino. Deputados do partido Copei classificaram a iniciativa como inaceitável. "Um governo paralelo deslegitima as instituições do Estado venezuelano e compromete os ativos da República no exterior", afirmou Juan Carlos Alvarado, secretário-geral do Copei.
Repercussão internacional e prisão de ativistas
A detenção de Márquez ocorreu no contexto de uma série de prisões de opositores, incluindo Carlos Correa, diretor da ONG Espaço Público, que também foi levado por agentes de segurança. A organização relatou que Correa permanece desaparecido.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, expressou preocupação com as prisões e anunciou que não comparecerá à posse de Maduro. Contudo, Petro afirmou que seu governo não pretende romper relações diplomáticas com a Venezuela, destacando a necessidade de respeito aos direitos humanos.
Contestação eleitoral e impasses políticos
A crise é fruto de alegações de fraudes nas eleições de julho de 2024, que reelegeram Nicolás Maduro. A oposição e observadores internacionais apontaram irregularidades, incluindo a falta de auditorias e de divulgação de resultados detalhados. A contestação do pleito resultou em violentos protestos que deixaram dezenas de mortos e milhares de presos.
Em resposta, o governo Maduro reafirmou a legitimidade das eleições, ratificadas por instituições como o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), e acusou governos estrangeiros de interferência nos assuntos internos do país.
Enquanto isso, grupos da oposição convocaram manifestações para esta quinta-feira, exigindo a liberação de presos políticos e mais transparência no processo eleitoral.