Uma investigação da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (GCCO/Draco) revelou que membros do Comando Vermelho utilizaram duas advogadas para acompanhar depoimentos e intimidar comerciantes que testemunhavam contra um grupo que extorquia lojistas em Várzea Grande, Mato Grosso. A ação faz parte da Operação "A Cesar o que é de Cesar", deflagrada nesta segunda-feira (10), e resultou na prisão de dois suspeitos identificados como O.R., conhecido como "Shelby", e C.R.L.S., chamado de "Maxixi".
Segundo o delegado Antenor Pimentel Marcondes, as vítimas prestaram depoimentos de forma anônima para garantir sua segurança. "A gente sabe como a facção trabalha. Nesse caso, foi feito o depoimento sem rosto, com audiência por áudio e distorção de voz", explicou.
Contudo, no dia das oitivas, a facção teria informado aos comerciantes que enviaria duas advogadas para acompanhar os testemunhos. De acordo com o delegado, a presença das defensoras tinha o objetivo de coagir as vítimas. "Mesmo que o advogado não precise falar nada, só o fato da vítima saber que ele foi enviado e pago pelo Comando já causa obstrução na investigação", afirmou Marcondes.
O delegado chegou a solicitar a prisão preventiva das advogadas, mas o pedido foi negado pela Justiça. Entretanto, mandados de busca e apreensão foram cumpridos, e os celulares das investigadas foram recolhidos para análise. "Vamos robustecer ainda mais as provas que já temos", disse.
Extorsão e ameaças gradativas
As investigações apontam que Shelby e Maxixi se apresentavam aos comerciantes como representantes de um "novo projeto" para regular o mercado. Inicialmente, não faziam ameaças diretas, mas tentavam convencê-los a aderir ao esquema.
"Eles dizem: 'Vamos regular o mercado. Quem vender muito abaixo, vamos investigar por quê'. Entram como um suposto órgão regulador e, depois, começam a cobrar impostos abusivos", detalhou Marcondes. Caso os lojistas recusassem, a pressão aumentava progressivamente, chegando a ameaças de morte e ataques aos comércios e famílias das vítimas.
Segundo o delegado, a ação policial conseguiu desmantelar o grupo antes que represálias fossem tomadas. "Eles não imaginavam que estavam sendo monitorados por diferentes órgãos de inteligência", concluiu Marcondes.
As investigações continuam para apurar a participação de outros envolvidos e o alcance da rede criminosa.