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SAÚDE Quinta-feira, 31 de Outubro de 2024, 09:53 - A | A

Quinta-feira, 31 de Outubro de 2024, 09h:53 - A | A

COQUETEL INDIGESTO

“Milkshake de cocô” melhora microbiota de bebês cesáreos, diz estudo

Ensaio clínico que alimentou recém-nascidos de cirurgia cesariana com leite materno contendo um pouquinho de cocô da mãe mostrou que técnica pode incorporar alguns micróbios benéficos no intestino deles

CNN

 

Coquetel aparentemente indigesto, uma pequena quantidade de fezes da mãe diluída em seu próprio leite, pode ajudar o filho nascido em uma cirurgia cesariana a desenvolver uma microbiota intestinal saudável e equilibrada.

A inusitada receita, testada no ensaio clínico Estudo Cesariana e Flora Intestinal do Recém-Nascido (SECFLOR), foi apresentada recentemente durante a ID Week, encontro anual de especialistas em doenças infecciosas e epidemiologistas, realizada em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Esse ensaio clínico randomizado, o primeiro a testar o conceito de “milkshake de cocô“, foi detalhado em um artigo publicado na revista Cell.

Para o pesquisador líder do estudo, Otto Helve, do Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar em Helsinque, “as descobertas preliminares confirmam a hipótese dos pesquisadores de que um pequeno transplante de matéria fecal é suficiente para ter um efeito positivo no microbioma do bebê”, confirmou o pediatra e ginecologista à Nature News.

A técnica, conhecida como transplante de microbiota fecal (FMT na sigla em inglês), foi testada por Helve e sua equipe no Hospital Universitário de Helsinque, onde os autores misturaram um fluido contendo 3,5 miligramas das fezes da mãe no leite dela e deram a mistura ao bebê.

Herança de “micróbios do bem”

Resumo gráfico do artigo sobre transplante de microbiota fecal materna em bebês nascidos por cesárea • Katri Korpela et al./Cell, 2024

Os FMTs foram inspirados em estudos que mostravam que o nascimento por cirurgia cesariana pode influenciar o desenvolvimento do sistema imunológico do recém-nascido, aumentando o risco de doenças como asma, doença celíaca e diabetes.

Segundo os especialistas, quando comparados aos bebês nascidos por parto (e não por cirurgia), os nascidos por cesárea têm esse risco aumentado para doenças porque não foram expostos à microbiota da vagina e do períneo da mãe durante o nascimento.

Alguns dos estudos chegaram a demonstrar que os bebês nascidos em cirurgias cesarianas eram mais sensíveis a germes e bactérias hospitalares dos que os nascidos por parto.

Para tentar compensar essa desvantagem, pesquisadores esfregaram a pele de um bebê recém-nascido em fluido vaginal de sua mãe, enquanto outros ministraram micróbios da vagina materna via oral (semeadura vaginal) logo após o parto.

Essas técnicas iniciais não tiveram pleno sucesso, afirmou o cientista de microbioma Yan Shao, que não participou do estudo atual, à Nature News. É que micróbios vaginais não podem efetivamente colonizar os intestinos dos bebês, explicou.

Como foi feito o teste do “milkshake de cocô”?

As participantes do estudo de conceito foram recrutadas entre gestantes programadas para cesárea no Hospital Universitário de Helsinque, por meio de panfletos deixados nas salas de espera.

Das 30 mulheres que buscaram informações, 17 concordaram em participar, mas dez delas tinham contraindicações, como tratamento recente com antibióticos ou micróbios potencialmente perigosos. Ao final, ficaram apenas sete.

As amostras fecais das mães foram coletadas três semanas antes das datas das cesarianas. Logo ao nascer, os bebês receberam os FMTs durante sua primeira mamada e, por segurança, permaneceram no hospital por mais dois dias.

A microbiota fecal inicial dos bebês (mecônio) foi testada no dia do nascimento, de novo após dois dias, uma semana, duas semanas, três semanas e três meses.

Na última data, os autores do estudo constataram que as microbiotas dos bebês que receberam os FMTs eram semelhantes às dos bebês nascidos por parto — porém diferentes das dos bebês nascidos por cirurgia cesariana — e de suas mães.

Embora ainda não haja conclusões sobre a eficácia do método, pois o teste definitivo rastreará os bebês até os dois anos idade, esse estudo se mostrou “eficaz e apoia o conceito de transferência vertical da mãe para o bebê”, dizem os autores.

Mas alertam em um comunicado: não tentem esse procedimento por conta própria, pois “as amostras precisam ser testadas quanto à segurança e adequação”.

 
 

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