Os institutos de pesquisa, que tradicionalmente desempenham um papel crucial na análise das intenções de voto, se viram descredibilizados nas eleições municipais de 2024 em Cuiabá e Várzea Grande. Desde o primeiro turno, vimos uma sucessão de erros crassos em previsões, com levantamentos que não apenas falharam em capturar o pulso do eleitorado, mas também se distanciaram drasticamente dos resultados finais, colocando em xeque a confiabilidade dessas instituições. Em Várzea Grande, a advogada Flávia Moretti (PL) saiu vitoriosa com 50,31% dos votos válidos, desbancando o atual prefeito, Kalil Baracat, que era dado como praticamente eleito pelos levantamentos da Gazeta Dados, que afirmavam uma vitória de 64,94% para ele, bem acima da margem de erro. Já em Cuiabá, o deputado estadual Eduardo Botelho (UB) foi apontado como líder na disputa, mas o resultado nas urnas foi completamente diferente, com Abílio Brunini (PL) liderando e Lúdio Cabral subindo para o segundo lugar.
Este cenário não apenas expõe os erros gritantes dos institutos, mas reflete um distanciamento desses institutos em relação à população que dizem representar. Suas previsões, antes consideradas balizas seguras, hoje se tornaram quase anedóticas, distantes da realidade vivida nas urnas e, em última análise, falharam em antecipar o desejo legítimo de mudança dos eleitores. As eleições de 2024 consolidaram o fim do ciclo do Partido dos Trabalhadores (PT) no estado de Mato Grosso, um reduto bolsonarista, onde a rejeição ao partido está em franca ascensão. Esta rejeição se mostrou tão potente que nenhum candidato do PT conseguiu se eleger para a Câmara de Vereadores em Cuiabá, e o partido foi completamente expurgado do cenário municipal em todo o estado.
A derrota de Lúdio Cabral no segundo turno para Abílio Brunini reforça esse cenário, onde nem mesmo a “margem de erro” conseguiu ser utilizada para justificar tamanha discrepância entre as projeções e os resultados finais. Na reta final, os institutos chegaram a apontar um empate técnico entre os candidatos, mas os votos contaram outra história: Abílio Brunini conquistou 53,80% dos votos válidos, somando 171.119 votos, enquanto Lúdio, com 46,20%, ficou com 146.966 votos.
Os erros das pesquisas começam no primeiro turno, quando os institutos indicavam que Abílio Brunini perderia força caso fosse para o segundo turno. A narrativa promovida era de que ele talvez até entrasse na disputa, mas que sucumbiria diante de um concorrente. Os números, no entanto, mostram que ele terminou o primeiro turno com 39,60% dos votos válidos, desbancando os prognósticos. Lúdio Cabral, por sua vez, surpreendeu ao garantir a segunda posição com 28,32%, contrariando mais uma vez as previsões.
A questão que emerge é: qual é a real função dos institutos de pesquisa se suas metodologias, ao invés de capturar o desejo da população, entregam dados inconsistentes? A distância entre o projetado e o resultado final não pode ser explicada por meros erros de amostragem, mas reflete um problema estrutural, onde a metodologia e a leitura de cenário parecem inadequadas para capturar a verdade das urnas, especialmente em estados como Mato Grosso, onde o conservadorismo é crescente e evidente.
No segundo turno, a situação não foi diferente. A AtlasIntel, em levantamento divulgado na véspera da eleição, sugeria uma vitória de Lúdio com 49,1% dos votos, frente a 48,8% de Abílio, projetando um embate acirrado que mais uma vez não se concretizou. A Futura Inteligência também indicava um cenário de disputa ponto a ponto, com 50,1% para Abílio e 49,9% para Lúdio. E ainda o instituto Paraná Pesquisas, em sua avaliação de quinta-feira, trazia Abílio com 48,3% e Lúdio com 43,1%, revelando uma enorme margem de incerteza para uma pesquisa a poucos dias do pleito.
A eleição de Abílio Brunini (PL) com uma margem expressiva e a vitória de Flávia Moretti (PL) em Várzea Grande evidenciam o descompasso entre as intenções do eleitor e as previsões dos institutos. Esse fenômeno revela mais do que um erro estatístico; ele ilustra um desalinhamento com o desejo popular e uma falha em compreender a evolução do conservadorismo no estado. Ao insistir em uma narrativa que não encontra respaldo nas urnas, os institutos minam sua própria credibilidade, deixando uma dúvida crescente sobre o real impacto de suas previsões em disputas futuras.
Além disso, essa sucessão de falhas reiteradas reabre o debate sobre o papel e a responsabilidade dos institutos de pesquisa no processo eleitoral. Quando suas previsões influenciam estratégias de campanha, movimentos do mercado financeiro e até a opinião pública, suas falhas ganham uma magnitude ainda maior. A ciência política se vê desafiada a buscar novas metodologias e a rever seus processos para não correr o risco de alienar-se dos eleitores e perder totalmente a relevância como ferramenta de análise.
O desfecho dessas eleições mostra que a voz do eleitor em Mato Grosso, especialmente na polarizada Cuiabá e na estratégica Várzea Grande, é inegável, e os institutos de pesquisa, ao menos neste momento, parecem ter perdido a sintonia com o povo. Enquanto os cidadãos optaram por um caminho claro de renovação e mudança, as pesquisas insistiam em números que desconsideravam a força do conservadorismo e a rejeição aos partidos de esquerda na região.
Em um estado que abraça valores conservadores e uma postura firme contra o PT, os eleitores responderam às urnas de forma decisiva. A vitória do Partido Liberal e a “limpeza” do PT dos cenários municipais reforçam essa direção, em uma conjuntura onde o eleitorado deixou claro seu descontentamento com o status quo e a necessidade de lideranças alinhadas aos seus valores. É hora de os institutos de pesquisa se perguntarem: a quem eles realmente servem, se não ao próprio eleitor?