A aprovação da Reforma Tributária no Brasil marca uma tentativa de resolver décadas de ineficiência e complexidade no sistema tributário. Contudo, embora seja apresentada como um avanço, a proposta levanta preocupações sobre seus impactos reais, como o aumento de alíquotas, o custo para o setor de serviços e a introdução de mecanismos como o cashback tributário, que podem ter efeitos controversos.
Enquanto simplificar é um objetivo legítimo, a grande questão é: estamos construindo um sistema fiscal mais justo ou apenas redistribuindo o peso de forma desigual?
Alíquotas Altas: Realidade Inevitável
Com a unificação de tributos como PIS, Cofins, ISS e ICMS no IVA dual – dividido entre a esfera federal e subnacional –, uma alíquota elevada será necessária para sustentar a arrecadação. Estimativas indicam que essa alíquota poderá ultrapassar 25%, atingindo possivelmente 30%. Isso coloca o Brasil em uma posição desconfortável, comparável aos países com as maiores cargas tributárias do mundo, mas sem o mesmo nível de retorno em serviços públicos.
Por exemplo, países europeus com altas alíquotas de IVA têm sistemas robustos de saúde, transporte e educação. No Brasil, o contribuinte já arca com esses serviços do próprio bolso, o que torna qualquer aumento de impostos ainda mais oneroso.
Cashback Tributário: Inclusão ou Compensação Insuficiente?
Um dos mecanismos mais inovadores propostos pela reforma é ocashback tributário, que promete devolver parte dos impostos pagos pelos mais pobres no consumo de bens essenciais. A ideia é mitigar os impactos regressivos da alta carga tributária sobre o consumo, devolvendo o imposto de forma direta à população de baixa renda.
Embora o conceito seja interessante, sua implementação levanta dúvidas. Primeiro, como será feita a identificação dos beneficiários e o monitoramento do sistema? A inclusão digital e bancária é um desafio significativo, considerando que milhões de brasileiros ainda não possuem acesso adequado a essas estruturas.
Além disso, há o risco de que o cashback seja insuficiente para compensar o aumento de preços causado pelas novas alíquotas, especialmente em serviços como transporte, educação privada e saúde, que não estarão isentos.
Impacto no Setor de Serviços
O setor de serviços é, sem dúvida, o mais afetado pela reforma. Hoje, empresas de serviços pagam alíquotas efetivas mais baixas, especialmente aquelas enquadradas no Simples Nacional ou no Lucro Presumido. Com a unificação e a aplicação de alíquotas mais altas, muitos negócios verão seus custos subirem drasticamente.
Esses custos, inevitavelmente, serão repassados ao consumidor. Serviços como escolas particulares, planos de saúde e até mesmo atividades culturais terão preços reajustados para acomodar a nova carga tributária. Isso pode levar a um duplo impacto: menor demanda por esses serviços e pressão adicional sobre os sistemas públicos, que precisarão atender uma demanda maior sem recursos equivalentes.
A Ilusão da Neutralidade Fiscal
Embora o governo tenha defendido que a reforma será neutra em arrecadação, a realidade pode ser diferente. A ampliação da base tributária – incluindo setores antes isentos ou com regimes diferenciados – poderá aumentar a carga tributária efetiva, especialmente sobre a classe média.
Além disso, estados e municípios ainda enfrentam incertezas sobre como será feita a redistribuição das receitas do IVA. Regiões menos desenvolvidas, como o Norte e o Nordeste, temem perder arrecadação para estados mais ricos, agravando as desigualdades regionais.
A Competitividade em Risco
Outro ponto crítico é o impacto na competitividade do Brasil no cenário internacional. A alta carga tributária combinada com custos administrativos elevados – que a reforma não resolve por completo – pode continuar afastando investidores estrangeiros.
O chamado "custo Brasil" já é um fator que prejudica a exportação de produtos e serviços nacionais. Se as alíquotas se tornarem ainda mais pesadas, o país pode enfrentar dificuldades para se integrar às cadeias globais de valor, especialmente em setores estratégicos, como tecnologia e manufatura.
Considerações Finais
A Reforma Tributária é uma oportunidade histórica de transformar o sistema fiscal brasileiro, mas seus desafios não podem ser ignorados. A promessa de simplificação pode vir acompanhada de um custo alto para os setores produtivos e, principalmente, para o consumidor.
Embora o cashback tributário represente um avanço em termos de justiça fiscal, ele ainda precisa de ajustes para garantir que cumpra sua função de maneira eficiente e inclusiva.
O Brasil não pode se dar ao luxo de falhar nesta implementação. Um sistema tributário mais simples, transparente e justo é essencial, mas isso exige diálogo, ajustes técnicos e um compromisso genuíno com o desenvolvimento do país.
Isaac C. Coelho
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