O espraiamento urbano de Cuiabá — marcado pelo avanço horizontal da cidade sobre áreas cada vez mais distantes do centro — está cobrando seu preço. É o que aponta um estudo inédito do WRI Brasil, que analisou a evolução da forma urbana nas cidades brasileiras entre 1993 e 2020. Segundo o levantamento, a capital de Mato Grosso é uma das cidades médias do país que mais cresceram em território, sem que esse aumento se refletisse proporcionalmente na população.
A consequência direta desse modelo de crescimento é a pressão sobre os sistemas de mobilidade, saúde, educação, saneamento e transporte público. Com bairros mais afastados e de baixa densidade populacional, o custo para levar infraestrutura básica a todas as regiões dispara — e a qualidade do serviço entregue tende a cair.
“Cidades que crescem horizontalmente demais tendem a dificultar o acesso da população às oportunidades urbanas, aumentam o custo da mobilidade e da prestação de serviços, além de contribuírem para o aumento das emissões de poluentes”, explica Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano da WRI Brasil.
Entre as capitais que seguiram esse caminho, Cuiabá se destaca por um modelo urbano que priorizou a expansão territorial, em vez da verticalização e da compactação — estratégias adotadas por metrópoles como São Paulo e Curitiba para racionalizar o uso do solo. A cidade se enquadra na categoria de cidade média, com população entre 500 mil e 1 milhão de habitantes, mas seu traçado urbano se estendeu a um ponto em que bairros novos surgem a dezenas de quilômetros do centro, exigindo longos deslocamentos diários.
Além do impacto sobre a mobilidade urbana, o fenômeno tem raízes em fatores como especulação imobiliária, parcelamento irregular do solo e políticas habitacionais que não priorizaram o adensamento urbano. Também pesa a mudança no perfil familiar: há mais domicílios com menos pessoas, o que aumenta a demanda por moradias mesmo com crescimento populacional modesto.
De acordo com o estudo, cidades mais compactas tendem a oferecer melhor qualidade de vida, mais oportunidades de emprego, educação e saúde, e padrões de mobilidade mais eficientes — tudo isso com menor impacto ambiental e menor custo para o poder público.
A WRI alerta que, sem planejamento urbano adequado, o espraiamento continuará comprometendo a sustentabilidade de Cuiabá no médio e longo prazo. “O crescimento precisa ser acompanhado de políticas que incentivem a densidade, a diversidade de usos e o transporte coletivo de qualidade”, conclui Henrique Evers.
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