Em um evento realizado no Rio de Janeiro nesta quarta-feira (12), o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, expressou grande preocupação com a economia brasileira, comparando a situação atual a um “paciente em estado crítico na UTI”.
Durante o seminário promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, Fraga destacou que os juros futuros estão em patamares extremamente elevados e reforçou que a política fiscal é a principal saída para aliviar a pressão sobre o Banco Central.
Fraga, que comandou a autoridade monetária entre 1999 e 2002, sugeriu que o atual presidente da instituição, Gabriel Galípolo, dialogue com o governo para priorizar ajustes fiscais.
“Você, como uma pessoa de confiança das altas autoridades do nosso país, talvez possa convencê-las de que não tem mágica. O que aconteceu até agora foi muito bom, o desemprego está baixo, é um sonho, mas agora a festa meio que acabou. Não é um problema de comunicação”, declarou o economista.
Ele também alertou para o crescimento da dívida pública, que já ultrapassa 75% do PIB e continua em trajetória ascendente, enquanto a economia dá sinais de desaceleração.
“O Banco Central não faz milagre. Sei que é difícil comentar, mas isso precisa acontecer. Eu considero que o paciente está na UTI. O mix macroeconômico precisa mudar, e isso não parece estar na agenda”, afirmou Fraga.
Gabriel Galípolo Responde
Em resposta, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reconheceu os desafios enfrentados pela autoridade monetária e afirmou que busca espaço para expressar suas análises sobre os rumos da economia sem ultrapassar o papel institucional do BC.
“Faz parte do desafio você não cruzar uma linha e não transcender o que é o quadrado da autoridade monetária”, ponderou.
Galípolo defendeu que as medidas de política monetária surtirão efeito para conter a inflação e afirmou que o mercado já antecipa uma desaceleração econômica. No entanto, segundo ele, as atenções estão voltadas para as ações do governo diante desse cenário.
“Isso não é simples de endereçar enquanto autoridade monetária. Uma coisa é ser preventivo a algo que já está presente, outra é lutar contra algo que pode nem existir”, explicou.
Declaração de Voto em Lula
Durante as eleições de 2022, Armínio Fraga declarou apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar de ressalvas em relação ao histórico econômico do partido.
“Pensei em anular o voto, mas, diante dos riscos, optei por apoiar Lula”, afirmou à época em entrevista ao Estadão.
O economista também enfatizou a importância da democracia para o desenvolvimento do país.
“As sociedades mais prósperas do planeta são democracias. Já vivemos ameaças autoritárias no passado, e precisamos concentrar nossa energia em preservar o que foi conquistado ao longo dos anos”, concluiu.