O contraventor Rogério de Andrade, considerado o maior bicheiro do Rio de Janeiro e patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, foi transferido nesta terça-feira (12) para o Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. A transferência foi determinada pela 1ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), após o contraventor ser preso no final de outubro de 2023, durante a Operação Último Ato, deflagrada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Rogério de Andrade, que havia sido preso no final de setembro de 2023, é acusado de ser o mandante do homicídio de seu rival, Fernando de Miranda Iggnácio, em 2020. A morte de Iggnácio, que disputava o comando do jogo do bicho no Rio com Andrade, foi um dos episódios mais marcantes de uma guerra sangrenta entre as famílias envolvidas no tráfico de jogos de azar no estado.
A transferência do bicheiro foi acompanhada por um esquema de segurança. Ele deixou a Penitenciária de Segurança Máxima Laércio Pellegrino (Bangu 1), localizada no Complexo de Bangu, na Zona Oeste do Rio, na manhã de terça-feira, escoltado por quatro viaturas do Serviço de Operações Especiais (SOE) — grupamento especializado da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). O contraventor foi levado até a Base Aérea do Galeão, na Ilha do Governador, onde uma aeronave da Polícia Federal (PF) o aguardava para a transferência. O voo, que decolou pouco após o meio-dia, seguiu para o Centro-Oeste, onde Rogério ficará detido no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).
A decisão de transferir Rogério para o presídio federal foi confirmada no início do mês, após negociações entre o TJRJ e a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), vinculada ao Ministério da Justiça. Rogério ficará em um presídio de segurança máxima, isolado dos demais detentos, com restrições severas de comunicação e visitas.
Rogério de Andrade, sobrinho do falecido Castor de Andrade — um dos maiores nomes do jogo do bicho no Rio de Janeiro — tem um longo histórico de envolvimento em atividades criminosas. A disputa pelo controle das organizações de jogos de azar, que no passado pertenciam a Castor de Andrade, levou à morte de seu rival Fernando Iggnácio. A briga entre os dois começou na década de 1990, quando Rogério, insatisfeito com a ascensão de Iggnácio no negócio de caça-níqueis, iniciou uma série de ataques para expandir seu domínio. A violência entre as famílias chegou a ceifar pelo menos 50 vidas.
Em 2021, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) acusou Rogério de Andrade de ser o mandante do assassinato de Iggnácio, mas a acusação foi rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano seguinte, devido à falta de provas substanciais. No entanto, o MPRJ continuou as investigações, e, em um novo procedimento, a promotoria conseguiu novas evidências que implicaram Rogério no homicídio de Iggnácio.
Rogério também enfrentou diversas batalhas judiciais nos últimos meses. Em abril de 2023, o contraventor teve a tornozeleira eletrônica retirada após uma decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do STF. Ele estava sob monitoramento eletrônico desde 2022, quando foi preso durante a Operação Calígula, que desmantelou uma rede de corrupção e crimes envolvendo, além de Rogério, o filho dele, Gustavo Andrade, e diversas figuras do sistema de segurança pública, como a delegada Adriana Belém e o policial militar Ronnie Lessa — condenado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco.
A Operação Calígula, deflagrada em maio de 2022, revelou a atuação de uma organização criminosa que, sob o comando de Rogério, explorava jogos de azar, praticava homicídios, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. O bicheiro, junto com seu filho Gustavo, estava à frente de um império criminoso que se estendia por diversas regiões do Rio de Janeiro e de outros estados.
Defesas e reações
A defesa de Rogério de Andrade tem tentado reverter as decisões judiciais que envolvem seu cliente. No início de novembro de 2023, a 8ª Câmara Criminal do TJRJ negou dois pedidos de habeas corpus feitos por seu advogado, Raphael Mattos. Um dos pedidos visava revogar a prisão preventiva de Rogério, enquanto o outro buscava suspender a inclusão do contraventor no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Ambos os recursos foram rejeitados pela desembargadora Elizabete Alves de Aguiar.
A defesa da delegada Adriana Belém, uma das figuras citadas na investigação, também emitiu uma nota repudiando as acusações de envolvimento em organização criminosa, alegando que ela não foi formalmente acusada por tais crimes. Até o momento, a defesa de Rogério e outros envolvidos na operação não se manifestou publicamente sobre a transferência do contraventor para o presídio federal.