Iracema Muller, mãe de Ney Muller, o homem em situação de rua morto com um tiro no rosto por um procurador da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, desabafou em entrevista ao programa Cadeia Neles, da TV Vila Real, nesta sexta-feira (11). Com o coração partido, ela clamou por justiça e disse não ter acreditado ao ver as imagens do crime.
“Não acreditei no momento que vi as fotos. Não acreditei que um procurador da Assembleia Legislativa tinha matado meu filho. Quando vi o vídeo, não acreditei que ele fosse capaz de fazer aquilo”, lamentou.
Iracema relatou a dor profunda pela perda: “Meu coração está partido. Não foi só ele que mataram, foi um pedaço de mim também”.
O suspeito, Luiz Eduardo Martins Jacob, será submetido a audiência de custódia ainda nesta sexta-feira. Iracema fez um apelo emocionado: “Quero que ele pague pelo que fez, que a Justiça seja verdadeira e que sinta o coração dessa mãe que está destruído. Ele não deveria ter feito isso. Se alguém fizesse com o filho dele, ele também sofreria”.
"Não queremos vingança, queremos justiça"
David Alves, irmão de Ney, também falou durante a entrevista e reforçou o pedido da família: “Não queremos vingança, queremos justiça. Isso não pode ser mais um número da estatística”.
Ele também criticou o preconceito social: “Só porque era um morador de rua, um qualquer, uma pessoa que não tem valor algum para a sociedade? Não. Era uma vida. E uma vida não pode ser ceifada dessa forma”.
Ney lutava contra transtornos mentais
A mãe de Ney relatou que o filho sofria de transtornos mentais desde os 4 anos de idade, e passou por vários tratamentos e internações ao longo da vida.
“Quando estava em crise, ele saía andando na rua. Muitas vezes eu e meus filhos íamos atrás para trazê-lo de volta para casa e interná-lo. Essa era a nossa rotina com meu filho”, contou Iracema. “Mas há algum tempo ele desistiu do tratamento, fugiu do Adauto Botelho e foi para São Paulo, onde começou a usar entorpecentes. Quando tomava a medicação direitinho, era um menino amoroso, parecia normal.”
Crime pode ter sido premeditado
Segundo o delegado Edison Pick, que conduz as investigações, há indícios de que o crime foi premeditado. Em depoimento, o procurador Luiz Eduardo afirmou que estava jantando com a família em um restaurante de posto de combustível quando foi informado sobre a suposta depredação de veículos, incluindo o seu.
Após deixar a família em casa, ele teria ido ao Batalhão da PM para relatar o ocorrido. Ao retornar, encontrou Ney e atirou. Segundo a polícia, ele já chegou com os vidros do carro abaixados e chamou a vítima, que se aproximou — momento em que efetuou o disparo.
Ainda conforme o depoimento, o procurador admitiu que não viu quem danificou o veículo, mas presumiu que fosse Ney com base em características descritas por outras pessoas: um homem alto, magro, usando camiseta vermelha e bermuda.
O assassinato
Ney Muller foi morto com um tiro no rosto na Avenida Edgar Vieira, próximo à UFMT, no bairro Boa Esperança, em Cuiabá. Estudantes da universidade presenciaram o crime e relataram que Ney caminhava pela avenida quando foi chamado pelo nome por um homem que dirigia uma Land Rover preta. Em seguida, foi baleado à queima-roupa.
O atirador fugiu sentido Avenida Fernando Corrêa da Costa. Uma equipe do Samu foi acionada, mas Ney já estava sem vida.
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