O ex-diretor executivo de Operações e Abastecimento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Thiago José dos Santos, exonerado nesta terça-feira (25), declarou que sua demissão foi injusta. Thiago afirmou ter "escorregado numa casca de banana" ao simplesmente cumprir ordens do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD).
Thiago dos Santos era responsável pelos leilões da Conab e foi indicado ao cargo por Neri Geller, ex-Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária, que foi demitido devido a irregularidades identificadas em um leilão de arroz.
Das quatro empresas vencedoras do certame, nenhuma tinha experiência no setor arrozeiro. Antes de assumir o cargo na Conab, Thiago foi assessor parlamentar de Neri na Câmara Federal.
“Fizemos o que o ministro (Fávaro) mandou e colocamos no papel. Foi muita fala política e menos fala técnica. O ministro determinou R$ 5 o quilo, abaixo do preço de paridade. Isso tirou outros participantes da concorrência. Não tenho participação nenhuma. Só escrevi o que o governo falou através do Ministério da Agricultura. Apesar dos leilões não serem supervisionados pelo ministério, ele (Fávaro) trouxe para o gabinete dele esse assunto”, disse Thiago ao jornal O Globo.
Segundo Thiago, os técnicos da Conab defendiam que os valores iniciais do quilo do arroz ficassem entre R$ 5,50 e R$ 5,80.
A imposição de Fávaro para que o valor fosse menor afastou as empresas que poderiam se interessar no negócio.
O leilão foi anulado depois que a imprensa revelou que três das empresas vencedoras foram representadas por Robson Luiz de Almeida França, ex-funcionário de Geller na Câmara dos Deputados.
França também é sócio do filho de Neri Geller, Marcelo Piccini Geller, na empresa GF Business, criada em agosto de 2023 e voltada para o agronegócio. França atuou ao lado de Thiago dos Santos no gabinete de Geller.
“Se a operação tivesse sido feita como os técnicos da Conab determinaram, não teria como dar errado. Foi uma casca de banana que escorreguei e que não fui eu que coloquei. Me sinto totalmente injustiçado, porque não participei de nada até o momento do leilão”, disse Thiago.
A Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar as irregularidades.