Um estudo realizado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) identificou a presença do parasita Spirometra spp. nas fezes de onças-pintadas no Pantanal mato-grossense, alertando para um potencial risco de transmissão para seres humanos.
O protozoário é responsável por causar esparganose, uma doença que pode levar a sintomas graves, como inflamação, dor intensa, convulsões e até mesmo cegueira.
Os pesquisadores analisaram 40 amostras fecais coletadas entre 2022 e 2024 na Fazenda Piuval, em Poconé (MT), e identificaram que aproximadamente um terço delas continha o parasita.
A descoberta sugere que o patógeno está circulando no ecossistema da região, onde nunca havia sido detectado anteriormente.
A infecção ocorre pela ingestão de água contaminada ou carne malcozida de animais hospedeiros intermediários, como répteis e anfíbios.
Embora as onças não sejam diretamente afetadas, sua posição no topo da cadeia alimentar as torna bioindicadores da presença do parasita no ambiente.
O estudo, conduzido pelo veterinário Paul Raad no Programa de Pós-Graduação em Animais Selvagens da Unesp de Botucatu, reforça a importância da abordagem de "saúde única", que considera a relação entre a saúde humana, animal e ambiental. "Monitorar patógenos antes que se tornem um problema de saúde pública é essencial para a prevenção de surtos", explica Raad.
A pesquisa também destaca a importância das onças-pintadas para o ecossistema, ajudando a controlar populações de espécies invasoras como javalis e porcos-monteiros.
Entretanto, esses felinos são frequentemente alvo de caçadores e pecuaristas devido aos ataques ao gado.
Para minimizar os conflitos, foram implementadas soluções como cercas elétricas e monitoramento por câmeras na Fazenda Piuval.
Essas medidas reduziram significativamente as perdas de rebanho, demonstrando que é possível coexistir com a fauna local sem prejudicar a economia rural.
A descoberta do Spirometra spp. reforça a necessidade de pesquisas contínuas e políticas públicas voltadas para a conservação ambiental.
O monitoramento de zoonoses em ambientes selvagens é essencial para garantir tanto a saúde pública quanto a preservação das espécies nativas.