Por Antonio Carlos Candia Junior*
O Centro Histórico de Cuiabá, outrora vibrante e cheio de vida, hoje carrega as marcas do abandono e da deterioração. Nos anos 1980, aquele espaço não era apenas o coração da cidade, mas também um cenário de memórias inesquecíveis, especialmente a Rua Campo Grande, onde vivi momentos que moldaram minha infância.
Aos 12 anos, minha vida girava em torno das brincadeiras na rua, das aventuras pelos telhados e dos almoços de domingo em família. Os pés de bocaiúva e as mangueiras não apenas davam sombra, mas pareciam testemunhas silenciosas das nossas risadas. Minha avó, com suas mãos habilidosas, transformava cada refeição em um evento especial. Ao falar da Rua Campo Grande, é impossível não lembrar dela.
No fim da rua, um casarão de 1889 guardava a história da nossa família. Era a casa de minha bisavó e, nos natais, reunia mais de 30 netos e bisnetos. As risadas infantis ecoavam por seus corredores, preenchendo aquele espaço com uma energia que ainda pulsa em minha memória.
Com o passar dos anos, porém, o tempo levou não apenas entes queridos, mas também a vitalidade daquele lugar. O processo de degradação começou de forma sutil, até se tornar irreversível. A saída gradual dos antigos moradores esvaziou o bairro de sua essência, e o que antes era um espaço seguro tornou-se refém da criminalidade, do abandono e da crescente presença de moradores de rua, muitos vindos de outras cidades. A ausência de políticas públicas eficazes aprofundou o problema.
Hoje, o Centro Histórico é uma pálida lembrança do que foi. A Rua Campo Grande, que um dia pulsou de vida, agora reflete a luta contra o tempo e o descaso. No entanto, há esperança. O atual gestor público tem demonstrado interesse em revitalizar a área, um esforço que precisa ser incentivado e apoiado por aqueles que ainda acreditam no valor histórico e cultural desse espaço.
Infelizmente, há quem, sob o argumento dos “direitos humanos”, resista a projetos que poderiam devolver dignidade e segurança ao local. Mas é fundamental lembrar que o verdadeiro compromisso com os direitos humanos deve estar na busca de soluções efetivas, que não apenas preservem o patrimônio, mas também ofereçam condições de recomeço para todos.
Meu desejo, como alguém que testemunhou o Centro Histórico em sua melhor forma, é vê-lo renascer. Que as histórias do passado inspirem as ações do presente e que as memórias de um garoto correndo pela Rua Campo Grande possam, um dia, se somar a novas lembranças de um Centro Histórico revitalizado, seguro e vivo novamente.
*Antonio Carlos Candia Junior é bacharel em Direito e especialista em Comércio Exterior. Bisneto do ex-governador Júlio Strübing Müller e de Maria de Arruda Müller.
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Maria Guimarães 06/02/2025
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