Enquanto a saúde pública de Cuiabá e Mato Grosso enfrenta o escrutínio de operações que investigam irregularidades e corrupção, uma tragédia pessoal reacende o debate sobre as condições hospitalares. Anna Júlia, conhecida carinhosamente como Anninha, faleceu nesta sexta-feira (20), aos dois anos de idade, após contrair uma infecção hospitalar.
A mãe, em um grupo de WhatsApp, desabafou sobre a dor da perda e a revolta contra as condições da saúde pública: "Minha filha descansou na data de hoje e, por conta disso, quero um hospital melhor. Corruptos que tiram da saúde matam gente inocente. Minha filha Anna Júlia vinha travando uma batalha e pegou infecção hospitalar. Descanse em paz, filha, e me perdoa por não conseguir cumprir o que te prometi: te levar para casa no Natal. Deus acima de tudo.”
O pai visivelmente abalado disse: "Olha, foram três meses no hospital, três meses de muita briga, muita luta. O pessoal do raio-x, que é uma empresa terceirizada, nunca está lá quando a gente precisa. Medicamentos, então, também é complicado. Até pra enterrar minha filha, a prefeitura não pagou. É muito difícil, sabe? Se essas coisas fossem diferentes, talvez o desfecho também fosse. A alimentação no hospital é horrível, tem barata lá. A gente até se questiona como é que as crianças podem se alimentar bem nesse ambiente. Tem muita mosca, sabe? Aí você fica pensando na higiene, nas condições. Falam que as coisas são esterilizadas, mas dá pra acreditar? São muitos fatores que a gente viu lá e que fazem a gente pensar no que realmente aconteceu. E aí chega o momento mais difícil, sabe? Ver sua filha ali, olhando pra você, e você sem poder fazer nada. Ela começou a ficar roxinha. Eu fiz massagem, fiquei falando ‘filha, volta, filha, volta’, mas depois só peguei ela fria. O atestado de óbito marcou uma hora e dezoito. É uma dor que não dá pra explicar, sabe? Agora tô aqui, duas horas na capela. A gente vai enterrar ela lá no cemitério municipal São Gonçalo",lamentou.
Só quero que minha filha descanse em paz. E que outras famílias não passem pelo que eu passei. É muito difícil, muito mesmo."disse o pai
Nas redes sociais a mãe da pequena compartilhava alguns momentos e fazia pedidos de ajuda para custear o tratamento caro.
Na fisioterapia
Anna Júlia era a caçula de quatro irmãos e enfrentava uma batalha intensa contra a Atrofia Muscular Espinhal tipo II (AME), uma doença degenerativa, além de ser diagnosticada com Autismo de Suporte II. Seu tratamento era complexo e de alto custo. A família havia conseguido acesso ao medicamento Risdiplam, mas enfrentava desafios adicionais com a alimentação restrita da menina, que consumia exclusivamente o leite Pediasure sabor baunilha.
Para arcar com as despesas médicas, que giravam em torno de R$ 4.000 mensais, a família realizou campanhas de arrecadação. Recentemente, Anna Júlia havia passado por uma cirurgia para a colocação de uma gastrostomia (GTT) e uma traqueostomia. A ideia era proporcionar melhores condições para que ela pudesse ser cuidada em casa, com ventilação mecânica e alimentação adequada.
Apesar dos esforços da família, Anninha contraiu uma infecção hospitalar após o procedimento e não resistiu. A mãe, que lutava por condições dignas para a filha, agora lamenta a perda e clama por mudanças no sistema de saúde pública.
A morte de Anna Júlia ocorre em um momento em que investigações sobre corrupção na saúde pública levantam questionamentos sobre a má gestão de recursos destinados à assistência de pacientes. Casos como o de Anninha evidenciam a necessidade urgente de melhorias estruturais, de gestão e de fiscalização no setor.
A história da pequena Anna Júlia é um retrato de milhares de famílias brasileiras que enfrentam o desafio de garantir saúde e dignidade em um sistema sobrecarregado e, muitas vezes, negligente.
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