A disputa presidencial de 2026 no Brasil caminha para um cenário de incerteza e possíveis reviravoltas. Com Jair Bolsonaro inelegível e Luiz Inácio Lula da Silva enfrentando desafios políticos e administrativos, o país pode ter uma eleição sem seus dois principais líderes dos últimos anos. A avaliação foi feita pelo governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Para Mendes, Bolsonaro continua sendo a maior referência da direita, mas sua inelegibilidade impõe desafios para uma candidatura. “Ele tem uma capacidade de arrastar multidões, o que o próprio presidente Lula não está conseguindo. Vejo que ele vai ter dificuldade para ser candidato, mas acredito que muita coisa pode mudar nesse cenário político até 2026”, afirmou.
A ausência do ex-presidente na disputa pode gerar uma disputa interna pelo seu eleitorado. Nomes como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aparecem como opções dentro da direita, mas ainda sem a força política de Bolsonaro. Outros nomes menos tradicionais, como o empresário Pablo Marçal e até o cantor Gusttavo Lima, têm sido citados, o que evidencia a fragmentação do campo conservador.
Enquanto a direita busca um substituto para Bolsonaro, a esquerda também pode enfrentar dificuldades. Aos 78 anos em 2026, Lula pode optar por não disputar um novo mandato, seja por sua idade ou pelo desempenho do governo. Para Mendes, a falta de uma nova liderança no campo progressista é um fator preocupante.
“A esquerda tem dificuldade em ter um nome. O presidente Lula é o grande líder e talvez o único reconhecido na esquerda brasileira. Se ele não for candidato, vai haver uma disputa intensa para definir seu sucessor”, analisou.
Além das incertezas políticas, a gestão de Lula tem enfrentado obstáculos na área ambiental e na execução de grandes obras, o que pode afetar sua popularidade nos próximos anos. “Está lá o presidente Lula se batendo com a questão do petróleo na costa norte do País e até agora nada. Falta comando e controle do presidente e fazer valer sua palavra”, criticou Mendes.
Caso Lula não concorra, o PT precisará escolher um nome para representar a legenda, o que pode gerar disputas internas e abrir espaço para uma fragmentação semelhante à que ocorre na direita.
Mauro Mendes também afirmou que há tensionamento demais em torno dos processos sobre os ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023. Segundo ele, isso não vai terminar bem. O governador também declarou que estão sendo aplicadas penas desproporcionais a pessoas que participaram do episódio.
Mendes disse que o governo federal não está empenhado em destravar a obra da Ferrogrão, ferrovia projetada para escoar a produção agrícola de Mato Grosso e região. O governador também mencionou o imbróglio sobre as pesquisas por petróleo na Margem Equatorial, próxima à foz do rio Amazonas, como exemplo de que o presidente da República tem pouco comando da área ambiental.
O governador de Mato Grosso disse, ainda, que é engano achar que a disputa comercial entre Estados Unidos e China beneficiará o Brasil. Ele cita a possibilidade de o governo Donald Trumpo estar tensionando a relação com a potência asiática para aumentar a presença de produtos americanos no mercado chinês. Isso poderia prejudicar o Brasil, de acordo com esse raciocínio, porque os EUA também têm grande produção agrícola e poderiam tomar espaços de produtos brasileiros no mercado da China.