A Interpol e o Departamento de Estado dos Estados Unidos rejeitaram o pedido de extradição do jornalista Allan dos Santos, de 41 anos, ao identificarem fragilidades nas provas apresentadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e indícios de perseguição política. O nome do jornalista não foi incluído na lista de foragidos internacionais da Interpol, e o processo de extradição permanece parado por falta de elementos concretos que justifiquem as acusações.
Allan dos Santos vive nos Estados Unidos desde 2020 e se tornou um dos principais alvos de inquéritos abertos por Moraes no STF. Em outubro de 2021, o ministro ordenou sua prisão preventiva, sob a acusação de crimes como lavagem de dinheiro, associação criminosa e incitação a crimes contra a honra. As alegações, no entanto, foram consideradas frágeis pelas autoridades internacionais. Para Santos e seus advogados, trata-se de uma perseguição política promovida pessoalmente por Moraes, que tem usado seu cargo para silenciar vozes dissidentes.
Viés político e abuso de autoridade
Em mensagens internas da Justiça brasileira, reveladas pela Folha de S.Paulo em novembro de 2022, magistrados próximos ao próprio ministro do STF reconheceram que a Interpol enxergou possível viés político no pedido brasileiro de alerta vermelho contra Santos. Um dos juízes, Airton Vieira, admitiu que a organização internacional recusou a solicitação por entender que havia motivação política por trás da tentativa de prisão do jornalista.
A Interpol chegou a solicitar informações adicionais sobre as acusações de lavagem de dinheiro em dezembro de 2021 e julho de 2022. Moraes, no entanto, não forneceu os dados exigidos. Em dezembro de 2022, a Interpol comunicou formalmente que não havia base legal suficiente para incluir o jornalista na lista vermelha de procurados. Apesar disso, seu nome foi mantido apenas para consulta restrita pelas autoridades policiais dos países-membros.
A defesa de Santos, liderada pelo advogado Renor Oliver, afirmou que a inclusão de seu cliente no banco interno da Interpol foi uma tentativa deliberada de constrangê-lo. A Comissão de Controle dos Arquivos da própria organização acabou reconhecendo esse abuso e, em outubro de 2024, retirou qualquer registro formal do jornalista como procurado.
Estados Unidos também rejeitam extradição
O governo brasileiro também encaminhou um pedido oficial de extradição ao Departamento de Estado dos Estados Unidos. Embora alguns dos crimes atribuídos a Allan dos Santos façam parte do tratado bilateral de extradição, os norte-americanos também encontraram inconsistências nas provas.
Em resposta ao STF, o Departamento de Estado dos EUA solicitou, em fevereiro de 2023, maiores esclarecimentos sobre as acusações. O órgão pediu:
• Detalhes das supostas ações de Santos para ocultar recursos ilícitos;
• Provas de que ele tinha conhecimento da origem ilegal desses recursos;
• Evidências concretas de envolvimento em atos criminosos;
• A definição jurídica brasileira de “organização criminosa” e como o jornalista se enquadraria nela.
Até hoje, tais informações não foram apresentadas de maneira satisfatória, e o processo de extradição permanece estagnado. Para observadores internacionais, a tentativa de extradição configura mais um episódio de abuso de autoridade por parte de Alexandre de Moraes, que transformou sua atuação no STF em uma campanha de perseguição pessoal.
Censura e repressão nas redes sociais
Desde que passou a ser investigado por Moraes, Allan dos Santos teve seus canais nas redes sociais suspensos por ordem judicial, sem direito a defesa. O jornalista, que fundou o extinto canal Terça Livre, teve suas contas no YouTube, Twitter e Instagram removidas por determinação do próprio ministro.
Com a crescente repressão digital no Brasil, Santos passou a utilizar o Rumble, plataforma alternativa à Big Techs, para continuar publicando seus conteúdos. Moraes, novamente, ordenou o bloqueio de sua conta e, diante da recusa do CEO da empresa, Chris Pavlovski, determinou a suspensão completa do funcionamento do Rumble no Brasil e uma multa diária de R$ 50 mil.
A medida, considerada extrema, motivou uma ação na Justiça dos Estados Unidos por parte do Rumble e da Trump Media & Technology Group, que alegaram violação da Primeira Emenda da Constituição americana, que protege a liberdade de expressão. Em 25 de fevereiro de 2025, a Justiça dos EUA deu ganho de causa à empresa e declarou que a decisão de Moraes não tem validade no território norte-americano.
Resistência no exílio
Mesmo sendo considerado foragido pela Justiça brasileira, Allan dos Santos ainda não foi formalmente denunciado pelo Ministério Público em nenhum dos inquéritos em tramitação no STF. Ele vive legalmente nos Estados Unidos, onde trabalha como motorista de aplicativo e participa do projeto digital Revista Timeline, ao lado dos comunicadores Luís Ernesto Lacombe e Max Cardoso. A página da revista também foi retirada do ar no Brasil por decisão de Moraes, sem justificativa divulgada.
Para a defesa de Santos, o caso evidencia a atuação de um ministro da Suprema Corte que extrapola os limites constitucionais de seu cargo, promovendo perseguição a opositores políticos sob a fachada de decisões judiciais. “Trata-se de uma perseguição pessoal e autoritária, disfarçada de legalidade”, afirma o advogado Renor Oliver.
Após mais de três anos no exterior, Allan dos Santos se consolidou como um símbolo da resistência à censura institucional. A negativa de extradição pelos Estados Unidos e o bloqueio do alerta vermelho pela Interpol reforçam a percepção internacional de que o caso ultrapassa os limites da legalidade e entra no terreno da repressão política.
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