Na última sexta-feira (6), um episódio de violência policial dentro da Maternidade Célia Câmara, em Goiânia, chocou profissionais de saúde e gerou ampla indignação nas redes sociais. A enfermeira Fabiana Ribeiro e o maqueiro Valteir Santos, contratados pela FUNDAHC (Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas), foram agredidos e detidos por policiais militares enquanto cumpriam suas funções em condições já adversas devido ao atraso no pagamento de seus salários.
O incidente
Os policiais foram acionados por um assessor do vereador Igor Franco, a pedido do marido de uma gestante que é parente do assessor. A mulher buscava atendimento emergencial, embora estivesse agendada para um procedimento eletivo.
De acordo com relatos, a situação escalou quando Fabiana tentou explicar as limitações do serviço naquele momento. Os policiais a agrediram verbalmente, e, ao término de seu plantão, impediram que ela deixasse o local, partindo para a violência física. Valteir, que tentou defendê-la, também foi agredido e preso.
Uma paciente que presenciou a cena gravou um vídeo relatando o ocorrido:
"A enfermeira apenas tentou explicar o que estava acontecendo. Em vez de ouvir, os policiais partiram para o abuso. Quando o maqueiro tentou intervir, foi agredido também. Foi revoltante."
Salários atrasados e precariedade
O episódio jogou luz sobre a precariedade enfrentada pelos trabalhadores da FUNDAHC, responsável pela gestão terceirizada da maternidade. Sem receber salários regularmente, os funcionários denunciam as condições críticas de trabalho. A situação das três maternidades geridas pela organização já levou à paralisação de atendimentos emergenciais em diversas ocasiões devido à falta de repasses da prefeitura.
Essa crise não se limita às maternidades. Hospitais, unidades básicas de saúde e serviços como o SAMU enfrentam problemas graves, incluindo falta de insumos, equipamentos e até ambulâncias. Trabalhadores do setor têm protestado frequentemente contra a precarização e a falta de pagamentos, enquanto os servidores municipais denunciam a falta de atendimento pelo IMAS (plano de saúde dos servidores).
Corrupção na saúde
No final de novembro, o caos no sistema de saúde foi agravado por uma operação do Ministério Público que resultou na prisão do secretário de Saúde de Goiânia e dois diretores da pasta. Eles são acusados de “pagamentos irregulares”, com um dos envolvidos sendo encontrado com mais de R$ 20 milhões em dinheiro.
A violência sofrida por Fabiana e Valteir ocorre em um contexto de aumento nos casos de abuso policial no Brasil. Este episódio, particularmente chocante por ter ocorrido em um ambiente hospitalar, reflete a escalada da truculência policial e a vulnerabilidade dos trabalhadores de saúde, já sobrecarregados pela precariedade de suas condições de trabalho.
A agressão foi amplamente condenada por entidades e sindicatos de saúde, que exigem uma apuração rigorosa dos fatos e responsabilização dos envolvidos. A população, sensibilizada pelo relato da paciente, também cobra medidas mais firmes para garantir segurança e condições dignas de trabalho aos profissionais de saúde.
Enquanto os trabalhadores lutam para manter o atendimento em meio a tantos desafios, episódios como esse reforçam a urgência de mudanças estruturais no sistema de saúde pública de Goiânia.