Chegamos ao último dia do ano. Que ano!
Para a economia brasileira, 2024 foi um dos mais desafiadores. Não apenas pelo cenário interno, mas também pelas turbulências globais, marcadas por guerras, disputas políticas acirradas, juros internacionais elevados e recessões em blocos econômicos importantes.
O Brasil encerra o ano com o dólar em alta histórica, juros em trajetória ascendente, inflação acima da meta e estatais federais acumulando um déficit inédito em mais de duas décadas. Aprovou-se um pacote fiscal em tempo recorde, que pode colocar o país no topo do ranking mundial de impostos, e cortes de gastos impactaram diretamente programas sociais, aposentadorias militares, saúde, educação e até o reajuste do salário mínimo. Por outro lado, o desemprego atingiu o menor nível em décadas, e o PIB surpreendeu positivamente, ainda que modestamente.
A seguir, analisamos os principais acontecimentos que marcaram a economia em 2024.
Dólar em Alta Histórica
O dólar subiu 27,3% em 2024, ultrapassando a marca histórica de R$ 6,00. A valorização da moeda reflete o descontentamento do mercado com a condução econômica do governo. A divulgação de cortes nos gastos públicos e da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil foi o estopim para a disparada da moeda.
Esse movimento impactou diretamente o bolso do consumidor, elevando os preços de produtos importados, combustíveis, fertilizantes e alimentos. O aumento da cotação pressionou ainda mais a inflação, corroendo o poder de compra da população.
Inflação Acima da Meta e Selic em Alta
A inflação acumulada de 2024 ficou em 4,29%, acima da meta de 3% e próxima ao limite de tolerância de 4,5%. Essa alta foi sentida em diversos setores, desde combustíveis até alimentos.
Para controlar a escalada de preços, o Banco Central elevou a taxa Selic de 10,5% para 12,25% ao longo do ano, com uma previsão de 14,25% para 2025. Embora altas taxas de juros ajudem a conter a inflação, elas também freiam o consumo, dificultam o acesso ao crédito e inibem investimentos, aumentando os riscos de estagnação econômica.
Reforma Tributária: Avanço Histórico com Lacunas
Após décadas de discussões, a reforma tributária foi aprovada em 2024. Apesar de ser um marco, foi criticada por estabelecer o Brasil como um dos países com maior carga tributária no mundo. A urgência na aprovação limitou os debates sobre medidas para reduzir o custo da máquina pública, deixando o ajuste fiscal dependente de cortes em programas sociais e de um teto para o reajuste do salário mínimo.
A isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil gerou controvérsias. Vista como populista, a medida não foi acompanhada de compensações adequadas, aumentando o déficit fiscal.
Déficit Recorde nas Estatais
As estatais federais fecharam 2024 com um rombo de R$ 6 bilhões, o maior em 22 anos. Esse déficit comprometeu ainda mais a dívida pública, que ultrapassou 75% do PIB, limitando os investimentos em saúde, educação e infraestrutura.
Desemprego e PIB: Os Pontos Positivos
Apesar das adversidades, o Brasil atingiu a menor taxa de desemprego da história: 6,4% no terceiro trimestre. Há uma expectativa otimista de pleno emprego em 2026, caso a tendência se mantenha.
No terceiro trimestre, o PIB surpreendeu ao crescer 0,9%, com projeções de 3,3% a 3,5% para o ano. Setores como indústria e serviços lideraram o crescimento, compensando o desempenho negativo do agronegócio, impactado por fatores climáticos.
Conclusão
2024 foi um ano de extremos para a economia brasileira, com desafios significativos e avanços pontuais. Resta saber se as medidas adotadas em 2024 pavimentarão um caminho sustentável ou perpetuarão os desequilíbrios econômicos nos próximos anos.
Que 2025 seja um ano de equilíbrio, prosperidade e superação para todos nós.
Thiago Pacheco é especialista em finanças, mercado, controladoria, agronegócios e ESG, com mais de 20 anos de experiência no setor financeiro. É professor, palestrante e fundador da Elevare Institute.