Por Thiago Pacheco*
Com a enxurrada de recuperações judiciais no agronegócio, conforme acompanhamos nos últimos anos, o mercado vem indicado um cenário de crédito mais recessivo, caro, além de prazos mais curtos para as operações.
A cadeia vem sofrendo cada vez mais com o acesso ao crédito, em determinados momentos até com a suspensão de suas linhas de custeios e financiamentos, com o aumento do número de processos, não só produtores, mas agroindustrias, fornecedores de insumos e implementos, enfim, todos de alguma forma, tem um relacionamento mais estreito com o setor, comentam esta sensibilidade.
Há ainda a preocupação com a interpretação das primeiras instancias do judiciário, no que tange a desconstituição das alienações fiduciárias, dadas em garantias para a tomada do crédito, de certa forma colocando em “cheque” a interpretação do marco regulatório de garantias, aumentando ainda mais a sensação de risco aos credores. Até mesmo, a CPR (Cédulas de Produto Rural), antigo e tradicional instrumento para financiamento de produtores rurais, que recebeu em 2019 com a MP do Agro (MP897/19) uma repaginação, dando mais segurança ao instrumento, vem sendo incluídas nas solicitações dos processos recuperacionais, em que pese as possibilidades de impugnações, além das dificuldades/incertezas no recebimento do crédito, leva-se em consideração ao tempo e recursos dispendidos para as discursões.
Em suma, bancos e principalmente fundos financiadores do agronegócio, já começam a sinalizar as preocupações e os ajustes para mitigação dos riscos, ao passo, que a cadeia começa a ter a sensibilidade que o crédito, antes pujante, e fundamental para o setor, começa a “sumir” do mercado.
Importante aqui, é uma real avaliação de situação econômico-financeira daqueles que vem solicitando as RJs, com o propósito de não observarmos a criação de uma indústria das recuperações, gerando impactos em diversas camadas do mercado, retirando importante fomento para o setor, que como já mencionamos aqui, ajudou nosso país nas 3 últimas crises, tem uma representatividade de 30% nosso PIB.
*Thiago Pacheco é especialista em finanças, mercado, controladoria, agronegócios e ESG, com mais de 20 anos de indústria financeira, com passagens em grandes bancos com presença internacional, além dos maiores players do agro. Professor e mentor para o mercado financeiro e de capitais, e ainda, fundador e CEO da Elevare Institute.