A recente decisão de arquivar o inquérito que investigava a morte de João Antônio Pinto, de 87 anos, gerou um misto de perplexidade e revolta. O delegado da Polícia Civil, Marlon Conceição Luz, concluiu que o policial civil Jevânio Vidal Griebel agiu em legitima defesa, validando sua conduta como lícita e justificada pelo ordenamento jurídico. No entanto, a análise crítica dos fatos levanta questões profundas sobre o que é considerado razoável em situações de confronto com um homem de 87 anos.
O caso remonta ao dia 23 de fevereiro, quando João Antônio Pinto, um homem idoso e frágil, discutiu com indivíduos que erguiam uma cerca em sua propriedade. A família da vítima argumenta que ele vinha sofrendo com a invasão de terras há mais de um ano e buscava, por vias legais, uma decisão judicial para reintegração. Contudo, o desfecho foi trágico: um disparo no peito, fatal, disparado por um policial.
A versão oficial aponta que João sacou uma arma ao ver os policiais, acreditando se tratar de grileiros, e foi considerado uma ameaça imediata. O delegado sustentou que os agentes se viram em risco e que o uso de força foi moderado – indicado pelo único disparo. Mas até que ponto é plausível que um senhor de 87 anos, com limitações típicas da idade, pudesse representar um perigo iminente que justificasse tal resposta letal?
A família, ainda abalada, denuncia uma grande injustiça. Para eles, a alegação de que um idoso pudesse, em plena lucidez e condições físicas, ameaçar a vida de policiais armados é implausível. A visão da “legítima defesa”, nesses termos, passa a ser questionada por muitos como um recurso que pode mascarar abusos, especialmente em casos envolvendo populações vulneráveis.
A decisão de arquivamento, por ora, deixa um vazio de respostas e alimenta a sensação de impunidade. O Ministério Público Estadual (MPMT) agora analisa o caso e deve determinar os próximos passos. Resta esperar que o direito à justiça seja garantido, não apenas para João Antônio Pinto, mas para todos que, como ele, encontram-se em posições de fragilidade e vulnerabilidade diante de forças muito maiores.