O ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a retomada da investigação contra o presidente do PSD, Gilberto Kassab, em uma decisão que gerou reações políticas nos bastidores de Brasília. A medida, que ocorreu no último dia 19, foi vista como uma tentativa de pressionar o partido a recuar do apoio ao projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
A investigação, que envolve acusações de corrupção passiva, caixa dois e lavagem de dinheiro, havia sido enviada à Justiça Eleitoral de São Paulo em 2019, mas o STF decidiu reavaliá-la após uma mudança no entendimento sobre o foro privilegiado. Com isso, Kassab, que se tornou réu em 2021 após denúncia do Ministério Público, volta a ser alvo de apuração pela Corte.
Ele é acusado de ter recebido R$ 16 milhões da JBS em troca de apoio político, o que ele nega, afirmando que os valores se referem a serviços prestados fora do setor público.
A decisão de Moraes está inserida em um contexto político tenso. Nos bastidores, a movimentação foi interpretada por integrantes do Judiciário, Executivo e Congresso como uma forma de pressionar o PSD, que vinha sinalizando apoio ao projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. O ex-presidente Jair Bolsonaro, em discurso recente, afirmou ter resolvido um "velho problema" com Kassab e indicou que o presidente do PSD estava comprometido com a aprovação da anistia.
No Palácio do Planalto, a análise é de que Moraes usou a retomada da investigação como um recado ao PSD, sinalizando que o STF não tolerará alinhamentos com propostas que possam enfraquecer o processo judicial contra os réus dos ataques de 8 de janeiro. Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva temem que o apoio formal à anistia possa dividir o partido, que atualmente ocupa três ministérios no governo.
Em uma nota reservada a aliados, lideranças do PSD negaram que Kassab tenha feito qualquer promessa a Bolsonaro, afirmando que o dirigente apenas garantiu que os parlamentares do partido terão liberdade para votar conforme sua convicção. Contudo, o clima no Congresso segue tenso, com o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), anunciando a apresentação de um pedido de urgência para a tramitação da proposta de anistia. A previsão é que a proposta seja discutida em uma reunião marcada para a próxima terça-feira (1º), convocada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
O tema da anistia permanece como um dos pontos mais sensíveis da pauta política nos próximos dias, com a expectativa de que a decisão sobre o futuro do projeto tenha impactos significativos no cenário político do país.