As ações da Lojas Renner registraram uma queda superior a 11% nesta sexta-feira (21) após a varejista apresentar um resultado do quarto trimestre abaixo das expectativas do mercado. Além do fraco desempenho operacional, os investidores ficaram incomodados com o pagamento elevado de bônus a executivos, mesmo diante de resultados financeiros decepcionantes.
A receita da empresa veio em linha com o consenso, com a Renner registrando um crescimento de 10% no varejo, alcançando R$ 4,2 bilhões. No entanto, o grande problema apareceu na margem bruta, que apresentou leve queda em vez do crescimento esperado pelos analistas.
A margem bruta do varejo ficou em 55,8%, contra 55,9% no mesmo período de 2023, contrariando previsões que apontavam para uma expansão desse indicador. O impacto veio principalmente de despesas de vendas maiores do que o esperado e ajustes contábeis.
Bônus milionário incomoda investidores
Outro ponto de insatisfação foi o pagamento de R$ 150 milhões em participação nos lucros e resultados (PLR), um valor muito acima do esperado pelo mercado. O montante é significativamente maior do que os R$ 25 milhões pagos em 2023 e os R$ 13 milhões em 2022.
Para efeito de comparação, em 2019 — ano recorde para a empresa — a Renner pagou R$ 96 milhões em PLR.
A reação do mercado foi negativa. “Como eles pagam um bônus tão alto com um resultado ruim desses?”, questionou um gestor.
Segundo ele, enquanto em 2019 o PLR representava 1,14% da receita e 9% do lucro, agora a relação subiu para 1,19% da receita e 12,5% do lucro.
O CEO da Renner, Fabio Faccio, argumentou que o valor foi definido com base em metas de receita, EBIT e ROIC. Ele alegou que o PLR de 2023 foi atipicamente baixo, e que a alta em 2024 seria uma “normalização”.
O mercado, no entanto, não comprou essa explicação. “Se é participação nos lucros, o pagamento não deveria ser proporcional à receita, e sim à lucratividade”, criticou um analista.
Queda no lucro e perspectivas desafiadoras para 2025
Além da margem pressionada e do bônus elevado, outro destaque negativo foi o lucro líquido da Renner, que caiu 7,5% na comparação anual, fechando em R$ 487 milhões.
Na call com analistas, Faccio disse que a empresa manterá a busca por crescimento com rentabilidade, mas admitiu que 2025 será desafiador.
O CEO destacou que o crescimento de 2024 veio exclusivamente de volume, sem aumento de preços. Para este ano, a companhia pretende fazer reajustes abaixo da inflação, com a expectativa de que parte do crescimento venha de preços, mas o foco continuará sendo volume de vendas.
Expansão tímida frustra mercado
A Renner também anunciou que pretende acelerar a abertura de lojas, após um período de expansão limitada. Em 2023, a varejista abriu apenas uma loja líquida (considerando fechamentos), enquanto em 2024 foram 14 novas unidades.
Para 2025, a expectativa é abrir entre 25 e 35 lojas, sendo:
- 15 a 20 novas unidades da Renner;
- 10 a 15 novas unidades da Youcom;
- Poucas novas lojas da Camicado.
O plano, no entanto, foi considerado pouco ambicioso por parte do mercado. “Com o tamanho da Renner, abrir 35 lojas não move o ponteiro. Deveriam ser mais agressivos”, afirmou um gestor.
Ele destacou que a Youcom é um modelo de negócio bem-sucedido, mas que a empresa não acelera a expansão. “Parece que falta coragem”, criticou.
Liderança questionada
Olhando para o cenário geral, analistas afirmam que a Renner perdeu liderança e clareza estratégica. Um gestor comentou que, no passado, a empresa funcionava como uma corporation, mas com um líder forte, José Galló. Agora, segundo ele, a empresa parece sem comando claro.
Essa percepção de falta de liderança e direção estratégica é um dos motivos que levou à forte queda das ações.